Texto retirado do Boletim do Grande Oriente do Brasil n.º 3 – 4 – 5, do ano 86, 1961, E:. V:., págs. 68-78. Mantida a grafia original, menos quando houve claro erro de digitação.
Conferência
realizada no Salão Nobre do Grande Oriente do Brasil pelo Pod.'. Ir.'.
Dr. Álvaro Palmeira, Gr.'. Orad.'. da Sob.'. Assemb.'. Federal, em 6 de
fevereiro de 1961 E.'. V.'..
Presidiu a sessão o Pod.'. Ir.'. Prefessor Altamiro Meireles Grilo, Gr.'. Secr.'. Geral do Grande Oriente.
Prezados Irmãos,
Agradeço
vivamente ao estimado e culto Ir.'. Dr. Tito Ascoli de Oliva Maia a
solicitação, com que me distinguiu, para que participasse dêste ciclo de
conferências sôbre o Rito Moderno ou Francês.
Os
afazeres do mundo profano impediram-me de assistir às reuniões
anteriores, em que os eminentes Irmãos Alfredo Nogueira da Costa e Oscar
Pereira dos Santos versaram assuntos do maior interêsse. Lamentei não
ter estado presente, tantas foram as referências elogiosas, de que tive
notícias, sôbre o trabalho, que produziram, e do que me comprazi.
Hoje estou aqui, para atender ao vosso convite fraterno, apreciando o tema: “A concepção do Grande Arquiteto do Universo no Rito Moderno”.
Diz-me o Ir.'. Oliva Maia que fui eu quem escolheu o assunto. Não sei
bem se assim foi. Todavia, êle é da mais alta importância e significado e
merece o devido estudo por alguém capaz de fazê-lo, que não eu. O que ides ouvir é apenas uma pequena investigação de modesto estudioso de matéria maçônica.
1. Como se constituíram o Grande Oriente de França e o Rito Francês ou Moderno.
A
Maçonaria introduziu-se na França, de modo permanente, em 1721. Nesse
ano, constituíram-se as Lojas “Amizade e Fraternidade”, ao Or.'. de
Dunquerque e a “Perfeita União”, ao Or.'. de Mons.
Em
Paris, as primeiras reuniões maçônicas surgiram em 1725. Criaram-se até
1732 quatro Lojas: a do Lord Carlos Radcliff, a do lapidário Gustand, a
“São Tomaz” de André-François Lebreion e a Loja d’Aumont, do duque
dêsse nome. Na época (e ainda muitos anos depois) quem criava Loja era
seu Venerável perpétuo.
Em
1738 os membros dessas quatro Lojas parisienses reuniram-se em conjunto
e elegeram um Grão-Mestre, o duque d’Antin, aclamando no castelo
d’Aubigny, em 24 de junho, como “Grão-Mestre Geral e Perpétuo dos Maçons
no Reino da França”. Em 1743 êsses maçons das quatro Lojas deliberaram
constituir um órgão geral, que denominaram Grande Loja Inglesa da
França, sob a direção do conde de Clermont, que sucedera a d’Antin; era
como uma Grande Loja Provincial, se bem que Londres não lhe outorgasse
Carta Constitutiva.
Essa
Grande Loja publicou as “Ordenações Gerais”, que eram uma adaptação do
“Livro das Constituições”, de Anderson, que a Grande Loja de Londres, em
1723, solenemente aprovara; e, como esta, também só admitiu a Maçonaria
de três graus.
Em
1758 a Grande Loja Inglesa de França suprimiu a expressão “Inglesa” e
tornou-se a Grande Loja de França(1). Na época, cada Loja praticava o
Rito, que entendia. Em 1761 criou-se o Rito Francês, de três graus, num
esfôrço para dar unidade maçônica à França.
O
conde de Clermont morreu em 1771, sucedendo-lhe Sua Alteza Sereníssima
Luiz-Felipe de Orléans, duque de Chartres, conhecido na História como
Felipe-Egalité, o qual nomeou como “administrador geral” o duque de
Luxemburgo, que foi um maçom extraordinário.
O
duque de Luxemburgo fez reunir, em Paris, no hotel de Chaulnes, entre 5
de março e 26 de junho de 1772, os maçons franceses, em 15 assembléias
solenes, de que resultou a unidade e a soberania da Maçonaria francesa,
com a criação de uma autoridade central: o Grande Oriente de França,
sendo entronizado Grão-Mestre o duque de Chartres.
Foi o duque de Luxemburgo quem estabeleceu a “palavra semestral”, para reconhecimento da regularidade.
A
nova potência, ao libertar-se da hegemonia inglesa, constitui
oficialmente em 24 de dezembro de 1772 o Rito Francês e o proclamou em 9
de março de 1773, com a instalação de suas três câmaras. Convém
esclarecer que a adoção do Rito Francês não impedia o exercício de
outros Ritos no seio do Grande Oriente de França, como ainda hoje se
procede, através do Grande Colégio dos Ritos da aludida Potência.
Felipe de Orleans, em nome da ortodoxia maçônica, entendeu de coibir a proliferação dos Altos Graus.
Querendo
discipliná-los, nomeou em 1774 uma Comissão, para que estudasse todos
os sistemas conhecidos, inclusive o Francês, e compusesse um novo Rito,
que fôsse uma síntese do que houvesse de melhor. Na época, praticavam-se
11 Ritos na França, com variado número de graus, quase todos baseados
no capricho ou na vaidade e até na política, do que se originavam
grandes abusos.
A
comissão compunha-se dos Irmãos: Bacon de la Chevalerie, o conde de
Stroganoff, o barão de Troussaint, e outros. Depois de longos estudos, a
Comissão concluiu pela oposição a todos os Altos Graus. O Grande
Oriente aceitou a drástica conclusão e dirigiu, em 3 de agôsto de 1777,
uma Circular a tôdas as Lojas subordinadas, declarando só admitir os
três graus do simbolismo.
Os
partidários dos Altos Graus levantaram grande protesto e abriram tenaz
campanha, compelindo o Grande Oriente a reabrir o assunto em 1782, com a
criação de uma Comissão Especial, sob o título de Câmara de Ritos. Essa
Comissão trabalhou mais de cinco anos e apresentou em 1786 ao Grande
Oriente um projeto de reforma, composto de 7 Graus, sendo três
simbólicos e quatro Altos Graus (“Quatro Ordens do Grande Oriente de
França”) (2), projeto que foi aprovado por unanimidade e imediatamente
pôsto em prática, mantido o mesmo título de Rito Francês, porque fôra
apenas ampliado. A inovação, entretanto, fê-lo conhecido também pelo
nome de Rito Moderno.
Observa-se a data: 1786, isto é, o mesmo ano em que Frederico da Prússia estabelecia o Rito Escocês Antigo e Aceito de 33 graus.
A
Inglaterra nada objetou a Frederico II da Prússia. Entretanto, porque
era maçônicamente inamistosa com a França (e também o era
politicamente), declarou-se contra os quatro Altos Graus criados pelo
Grande Oriente e proscreveu a Maçonaria francesa
no que foi acompanhada pela Holanda, Dinamarca e Rússia. O motivo era
desconcertante: os partidários da Maçonaria de três graus consideravam
afrontosa a criação de mais quatro e os detentores de Altos Graus
traduziram essa criação como uma profanação e um acinte, por se
apresentar condensada a Maçonaria Filosófica em apenas quatro graus.
Entre êsses dois fogos, os maçons franceses, que adotavam o novo
sistema, foram impedidos do direito de visitação.
O
Grande Oriente de França enfrentou, porém, com êxito, a oposição
levantada. Com o tempo, o Rito espalhou-se por tôda a França e suas
possessões e implantou-se na Bélgica, Suissa, Portugal, Brasil e
Espanha.
2. Os antigos Rituais do Rito Francês ou Moderno de 7 Graus, conforme a reforma litúrgica de 1786.
O
Rito Francês ou Moderno de 7 Graus existe desde 1786; tem a mesma idade
do Grande Colégio do Ritos do Grande Oriente de França, cuja origem
remonta à mesma data. Houve, porém, em 1877 a reforma da Constituição do
Grande Oriente, a qual impôs a reformulação dos Rituais o que foi feito
em 1886.
O
Rito Francês ou Moderno de 7 Graus tem, assim, duas fases e elas são
totalmente diversas: a primeira, de 1786 até 1877 (quase um século); e a
segunda, de 1877 até o presente.
Os
Rituais da primeira fase são totalmente deístas. Os Estatutos de 1742
declaram: “Ninguém será recebido na Ordem sem que tenha prometido e
jurado afeição inviolável à Religião, ao Rei e aos costumes”. As
vésperas da Revolução muitas Lojas têm por veneráveis: abades, cônegos,
oratórianos, beneditinos, cisteretenses.
Havia
Lojas compostas exclusivamente de membros do clero, como a “Perfeita
União” de Rennes e a “Amizade Comprovada”, de Narbonne. A Constituição
do Grande Oriente de França, de 1849, em seu artigo1.º § 2.º proclamava
como princípio fundamental da Maçonaria a crença em Deus e a
imortalidade da alma.
Analisemos,
ràpidamente, êsses Rituais da primeira fase. Tenho comigo a 5.ª edição
do “Manual da Maçonaria”, de André Cassard, vindo à luz nessa época
(1867), em Nova York. No tomo 2.º se lêem as passagens, bem expressivas,
que vamos transcrever.
No catecismo do 1.º grau:
Pergunta – Que significa a luz?
Resposta – O emblema de tôdas as virtudes e o símbolo do Gr.'. Arq.'. Do Universo.
P. – Como fostes introduzido em Loja?
R. – Por três grandes golpes.
P. – Que significam êsses golpes?
R. – Correspondem às três palavras do Evangelho: pedi e obtereis; buscai e encontrareis; tocai e se vos abrirão.
P. – Como estáveis, quando fizestes o juramento?
R. – Em um quadrado perfeito: tinha o pé esquerdo descalço, o joelho direito desnudo, a mão direita sôbre a Bíblia, etc.
P. – Lembrai-vos da obrigação?
R. – Sim, Venerável Mestre.
P. – Começai, pois.
R. – Eu, F., de minha livre e espontânea vontade, prometo e juro solenemente, ante o Grande Arquiteto do Universo, etc.
Na página 14 o catecismo diz que a “sabedoria está em Deus”.
No
catecismo do 2.º grau assegura-se que “a fôrça está em Deus”, a Loja é
dedicada a São João de Jerusalém e a Estrêla Flamígera é o centro de
onde derivou a Verdadeira Luz.
No
catecismo do 3.º grau, vê-se a tumba de Hiram, o ramo de acácia e
repete-se que a Loja é consagrada a São João. O compromisso é prestado
de joelhos, as mãos sôbre a Bíblia e em presença do Gr:. Arquiteto do
Universo; termina com a expressão:
“Assim
Deus me ajude”. É contada tôda a lenda de Hiram e ensinam-se os Cinco
Pontos Perfeitos da Maçonaria. Aconselha-se: “O coração do Maçom deve
ser puro, para formar com êle um Templo, agradável a Deus”. Faz-se nesse
grau a descrição do Templo de Salomão. O Evangelho constitui uma das
três joias da Loja e significa a Verdade.
No grau 4: a Loja chama-se Conselho e se persevera na descoberta dos assassinos de Hiram.
No grau 5: a Loja é a Abóboda Secreta.
Ela contém o Delta precioso, achado após a morte de Hiram.
No grau 6: a Loja tem três peças e busca-se a reedificação do Templo do Gr.'. Arq.'. Do Univ.'..
Todos êsses graus são profundamente religiosos e servem de preparação no sétimo.
No grau 7:
P. – Que horas São?
R.
– “A hora em que foi desgarrado o véu do Templo, as trevas se
estenderam por tôda a Terra; foram espedaçadas as colunas e as
ferramentas da Maçonaria; em que se ocultou a Estrêla Resplendente, a
pedra cúbica porejou sangue e água e a Palavra se perdeu”.
Os
Cavaleiros vão procurar a Palavra Perdida, que é o mesmo tetragrama do
escocismo. Ao encerrar-se o Capítulo, a pedra cúbica se transformou em
Rosa Mística. Notem-se ainda: o sinal de Ordem é o Bom Pastor e a
cerimônia da Ceia repete o Rito Escocês.
Tudo
isso se lê no trabalho de Cassard, editado em 1867. É curioso, porém,
que dois autores modernos, os IIr.'. Frau Abrines e Arus Arderiu, no
tomo III do seu “Diccionário Enciclopédico de la Masoneria”, edição de
1947, pág. 593, afirmem que o 1.º grau do Rito Francês ou Moderno
“conduza o neófito à admiração e ao reconhecimento do Gr.'. Arq.'. Do
Univ.'.”, conforme ensina Ragon, no Ritual de Aprendiz. A Loja abre-se
sob os auspícios do Gr.'. Arq.'. Do Univ.'., de quem se invoca a bênção
para os trabalhos, com uma prece. No Testamento há, entre outras, esta
pergunta: “Que deve o homem a Deus?” e o discurso do Orador constitui um
hino de graças.
Frau
Abrines e Arus Arderiu parecem desconhecer a reforma de 1877. Tudo
quanto dizem nos nossos dias é o Rito Francês ou Moderno em sua primeira
fase.
No grau 2, por exemplo, o companheiro viu a Estrêla Flamígera e soube que há cinco beneméritos da humanidade:
Solon, Sócrates, Licurgo, Pitágoras e INRI.
No
grau 3 admitem-se questões filosóficas e teológicas, e as ciências
ocultas, que tratam da transformação dos corpos e da imortalidade da
alma, conforme Ragon, no Ritual do 3.º grau.
Ainda
no 3.º grau, ao responder à conhecida pergunta, diz o Mestre: “a acácia
me é conhecida” (pág. 604). A Estrêla Flamígera encerra-se dentre de um
triângulo, com a letra G no centro.
Conta-se a história de Hiram e os Mestres perseguem “a Verdade Eterna” (pág. 606).
Os
graus 4, 5 e 6 mantém a mesma orientação, já assinalada em Cassard, bem
como o grau 7. Há, nesse último, as colunas: Fé, Esperança e Caridade e
a Palavra Perdida é o tetragrama do escocismo.
Os
IIr.'. Abrines e Arderiu não levaram em conta a reforma de 1877.
Repita-se, porém, que seu Dicionário Enciclopédico é de nossa época e
traz até a inovação recentíssima do grau 8: Kadosch Perfeito Iniciado,
conforme se lê a pág. 808 do tomo III.
3.
Os novos Rituais, isto é, os Rituais da segunda fase, após a reforma da
Constituição do Grande Oriente de França, em 1877. Os debates da
reforma.
O
Grande Colégio dos Ritos não era, nem é, soberano. Em 1877, a
Assembléia Geral do Grande Oriente de França decidiu suprimir o preceito
até então proclamado como o princípio fundamental da Maçonaria: a
crença em Deus e a imortalidade da alma.
Essa
supressão, vitoriosa, obrigou o Grande Colégio dos Ritos a reformular
os Rituais, o que só ocorreu em 1886, porque foram muitas as
resistências a vencer. A supressão daquele princípio fundamental
produziu o abandono da fórmula: “A Glória do Grande Arquiteto do
Universo”, bem como à retirada da Bíblia do Altar dos Juramentos.
A
Constituição do Grande Oriente de França, após a reforma de 1877,
estabelece em seu art. 1.º, depois de definir os objetivos e princípios
da Instituição: “A Franco-Maçonaria, considerando que as concepções
metafísicas são do domínio exclusivo da apreciação individual de seus
membros, recusa-se a qualquer afirmação dogmática”.
Em
homenagem ao Grande Oriente de França, convém deixar bem claro os
motivos por que êle operou essa reforma. Sua atitude não traduziu, como
poderia parecer, reação ao Sillabus, o código de intolerância do Papa
Pio IX, decretado em dezembro de 1864. (3).
O Grande Oriente não passou da posição deista para a posição atéia.
Absolutamente, não se impunha ateísmo a ninguém. O voto n.º 9, em virtude do qual a Assembléia suprimiu aquela afirmação dogmática de crença em Deus e na imortalidade da alma, tem a sua genuína interpretação nos Boletins do Grande Oriente de França, dos anos de 1876 e 1877 (4).
No Boletim de 1876, a pág. 373, se lê:
“Só
a má fé pode assimilar a supressão, que se pretende, a uma negação da
existência de Deus e da imortalidade da alma. Pleiteamos, sim como bases
exclusivas da Franco-Maçonaria
a solidariedade humana e a liberdade de consciência, mas essas bases
comportam a crença em Deus e em uma alma imortal, tanto quanto autorizam
o materialismo, o positivismo ou qualquer outra doutrina filosófica”.
(5).
No
mesmo Boletim de 1876, a pág. 378, se diz: “A Franco-Maçonaria não é
deista, nem atéia, nem mesmo positivista. Como instituição, afirmando e
praticando a solidariedade humana, ela é estranha a todo dógma e a todo e
qualquer credo religioso. Ela tem por princípio único o respeito
absoluto à liberdade de consciência.
Em
matéria de fé, ela não afirma nem nega. Ela respeita, de modo igual,
tôdas as convicções, doutrinas e crenças sinceras. Assim, as portas de
nossos Templos se abrem diante do protestante, como diante do católico,
diante do muçulmano como diante do cristão, diante do ateu como diante
do deista, desde que sejam homens de bem”.
A página 380 do mesmo Boletim de 1876 se acentua:
“Nenhum
homem inteligente e honesto poderá dizer seriamente que o Grande
Oriente de França quis banir de suas Lojas a crença em Deus e na
imortalidade da alma, quando, ao contrário, em nome da liberdade
absoluta de consciência, êle declara solenemente respeitar as
convicções, as doutrinas e as crenças de seus membros. Nós não afirmamos
nem negamos nenhum dógma, para nos mantermos fiéis aos nossos
princípios e à prática da solidariedade humana.
Se
convém aos Grandes Orientes estrangeiros nos caluniar, deturpando
nossos pensamentos e desnaturando nossos sentimentos, que o façam: são
livres”.
Em 1877, quando a Assembléia ainda debatia o assunto, proclamava-se (Boletim, pág. 243):
“Deixemos
aos teólogos o cuidado de discutir os dogmas. Deixemos às igrejas
totalitárias o cuidado de formular os Syllabus. Mas que a Maçonaria se
torne o que deve ser:
Uma instituição aberta ao progresso, a tôdas as idéias morais e elevadas, a tôdas as aspirações largas e liberais.
Que ela não desça jamais à arena ardente das discussões teológicas,
que não têm trazido senão dissenções e perseguições. Que ela se guarde
de querer ser uma Igreja, um Concílio, um Sinôdo! Porque tôdas as
Igrejas, Concílios e Sinôdos têm sido violentos e perseguidores, porque o
dógma é, por sua natureza, inquisidor e intolerante. Que a Maçonaria
paire, pois, majestosamente, acima de tôdas as questões de igrejas ou de
seitas; que ela sobreleve, do alto, tôdas essas discussões; que ela se
torne o vasto abrigo, sempre aberto a todos os espíritos generosos e
bravos, a todos os perquiridores conscienciosos e desinteressados da
verdade, a tôdas as vítimas, enfim, do despotismo e da intolerância”.
A
Moção, que adotou o voto n.º 9, supressivo, consta, finalmente, a fls.
248 do Boletim de 1877: “A Assembléia, considerando que a
Franco-Maçonaria não é uma religião, não pode, por conseqüência, afirmar
em sua Constituição doutrinas ou dogmas”. (6).
O
texto aprovado estabelecia: “A Franco-Maçonaria, instituição
inteiramente filantrópica e progressista, tem por objetivo a procura da
verdade, o estudo da moral universal, das ciências e das artes e o
exercício da beneficência. Tem por princípios a liberdade absoluta de
consciência e a solidariedade humana. Não exclui ninguém por suas
crenças. Tem por divisa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, (“Les
Francs-Maçons”, de Serge Hutin, ed. 1960, pág. 109, coleção “LeTemps qui
court”). É curioso assinalar-se que a aprovação se deu, após um
discurso muito aplaudido do Ir.'. Desmons, que não era livre pensador,
mas um pastor protestante.
Prestemos,
assim, estimados Irmãos, homenagem aos maçons francêses de 1877, que
não operaram a supressão, movidos por espírito de combate às concepções
espiritualistas ou cristãs. Absolutamente.
Ainda no Boletim de 1877, pág. 382, o Conselho da Ordem, em sua sessão de 24 de novembro, mais uma vez esclarecida: “Modificando
um artigo de seus Estatutos, o Grande Oriente de França não pretendeu
fazer profissão de ateísmo ou materialismo, como se poderia crer. Nada
mudou, nem nos princípios nem nas práticas da Maçonaria. A
Franco-Maçonaria francesa permanece o que sempre foi: Uma Maçonaria
fraterna e tolerante. Respeitando
a fé religiosa e as convicções políticas de seus adéptos, ela deixa a
cada um, nessas delicadas questões, a liberdade de consciência.
Visando
ao aperfeiçoamento moral e intelectual dos homens e seu bem estar, ela
só exige àqueles que querem se admitidos em seu seio, sentimentos de honra e de amor ao bem, para que possa cooperar útilmente na obra do progresso e da civilização”.
O
Grande Oriente de França suprimiu a afirmação dogmática, pelo respeito à
liberdade de consciência de seus membros. Uma grande prova de
tolerância, deu-a o mesmo Conselho da Ordem, quando, doze anos mais
tarde, em 1899, em sua sessão de 28 de outubro, afirmou com
superioridade (Boletim, pág. 455):
“É preciso, para transpor os umbrais dos Templos maçônicos da América do Norte, fazer uma profissão de fé deista.
Nós
não somos neles recebidos. Tem-se pedido que o Grande Oriente use de
reciprocidade, em relação aos maçons americanos, mas não entra em nosso
caráter e em nossos princípios partilhar as idéias de intolerância de
nossos irmãos da América; eis porque nós os acolhemos, quando êles nos
procuram”.
Conclúo aqui as citações dos Boletins oficiais do Grande Oriente de França.
Parece-me
plenamente fixado o motivo, que ditou reforma constitucional de 1877, o
que iria determinar a revisão dos Rituais, até então vigentes.
É
evidente desnecessário a maçons do Rito Francês ou Moderno dizer quais
são as principais características de seus Rituais atuais, isto é, os
Rituais da segunda fase, derivados da reforma da Constituição do Grande
Oriente de França, em 1877. Todavia, em atenção ao desenvolvimento
didático dêste trabalho, acentuarei:
No grau 1. O juramento é sôbre a Constituição; o candidato não ajoelha.
Define-se
a Maçonaria como uma instituição, cujos princípios são: a Tolerância, o
Respeito Mútuo e a Liberdade de Consciência. Sua divisa:
Liberdade,
Igualdade e Fraternidade. Não há Bíblia, nem outro L.'. S.'., nem
preces, nem se invoca o Grande Arquiteto do Universo.
No
grau 2. Faz-se a glorificação do trabalho, mas a letra G é gravitação,
gênio, geometria, e a Estrêla Flamejante simboliza a estrêla polar ou o
astro do livre pensamento.
No
grau 3. A acácia não é a imortalidade. Ela significa que a vida tira
seus elementos da morte e lembra a renovação social pela liberdade, que
sucede à opressão.
No grau 7. Não há referência e Jesus. A Palavra Perdida é a trilogia da Revolução Francesa.
Nos Rituais especiais, o mesmo sentido agnóstico: na inauguração do Templo, invoca-se a Verdade, a Razão e a Justiça; na confirmação do casamento, considera-se a cerimônia como um contrato, visando a perpetuação da espécie; na
pompa fúnebre: não há afirmação da imortalidade do espírito, nem a
invocação do Grande Arquiteto do Universo. E se diz que “o corpo, que
morreu, vai contribuir ao desenvolvimento da vida vegetal”.
Nos
Rituais vigente do Rito Francês ou Moderno não há liturgia, porque não
há cerimônia religiosa. Os Ritos podem compreender cerimônias religiosas
e não religiosas. Segundo Jules Boucher, em seu conhecido livro “La
Symbolique Maçonnique”, Rito é, em Maçonaria, “a codificação de certas
cerimônias. É o cerimonial”.
Nos
seus Rituais vigentes, O Rito Francês ou Moderno é um Rito, sem as
práticas religiosas de um culto. Seus Rituais contém as regras ou
preceitos, com os quais se realizam as cerimônias e se comunicam os
SS.'., TT.'. e PP.'. e demais instruções secretas dos graus.
4. Tinha a reforma de 1877 direito ao acatamento dos maçons do Rito, fóra da França?
Responde-se
pela negativa. Demais, é preciso distinguir entre Ritos e Corpos
Superiores Administrativos, que exercem o poder da Instituição em cada
país. O Rito é independente do Poder.
A
reforma de 1877 foi feita pela Assembléia Geral do Grande Oriente, não
pelo Corpo Litúrgico. Êsse, em virtude da reforma constitucional, foi
compelido a reformular os Rituais.
Evidentemente,
a reforma só obrigava aos maçons franceses do Rito. Não aos maçons do
Rito fora da França. Isso porque nenhuma Potência Administrativa ou
Simbólica é dona de um Rito. Só a Potência Filosófica pode alterar os
Rituais.
Entretanto,
em verdade, pelo antigo prestígio político da Nação Francêsa, todos os
Grandes Orientes, em que se praticava o Rito, inclusive o Grande Oriente
do Brasil, acompanharam sem discrepância o Grande Oriente de França.
Há
ainda uma aspecto a considerar. No Rito Escocês Antigo e Aceito
realizam-se Congressos quinquenais dos Soberanos Supremos Conselhos,
para disciplinar o Rito.
No
Rito Francês ou Moderno jamais se reuniram os Corpos Litúrgicos
Superiores dos vários países, para debater quaisquer assuntos de
interêsse geral; de modo que cada Corpo Litúrgico é soberano para os
maçons de sua alçada.
O
nosso Muito Pod.'. e Subl.'. Grande Capítulo do Rito Moderno poderia
repor, se o quisesse, os Rituais, conforme à sua fonte primitiva. Não só
em virtude de sua soberania imanente, em matéria litúrgica, no Brasil,
como também porque o nosso Grande Capítulo é anterior à reforma de 1877;
êle foi fundado em 1842 sob o nome de Grande Capítulo Geral dos Ritos
Azuis, tomando o nome de Grande Capítulo do Rito Francês ou Moderno em
23 de novembro de 1874.
5. É improcedente, por falsa, a arguição de irregularidade ao Rito Moderno ou Francês.
Não tem base nenhuma a imputação de irregularidade ao Rito Francês ou Moderno.
A
Grande Loja Unida da Inglaterra rompeu com o Grande Oriente de França,
após a reforma de 1877 (sempre a oposição inglêsa!), considerando o
Grande Oriente Potência atéia, por possuir um Rito Oficial, que não
exige a crença no Gr.'. Arq.'. do Universo. Igual procedimento tiveram
as Grandes Lojas dos Estados Unidos da América do Norte. A atitude
inglêsa tem raízes no velho imperialismo maçônico e frutificou, por que
ingleses e americanos, na maioria protestantes, sentem-se bem em
Maçonaria com o dógma e a Bíblia.
Entretanto,
essa exigência do dógma é, maçônicamente, impertinente e falsa, por não
se assentar nos postulados do “Livro das Constituições”, de Anderson,
aprovado e promulgado pela Grande Loja de Londres, em 1723.
Como
sabemos, o “Livro das Constituições” sanciona oficialmente o novo
aspecto especulativo e universal, assumido pela antiga Maçonaria. Por êles se dá à Maçonaria reorganizada em 1717 seus Estatutos fundamentais.
O trabalho de Anderson passou a constituir a base do Direito Internacional Maçônico. Os landmarques derivam dêsse trabalho. A primeira edição foi aprovada, promulgada e impressa em 1723. É a edição princips. “Em
1738, porém, Anderson publicou uma segunda edição de seu Livro, dando
um extrato dos atos da Grande Loja até aquela data, especialmente as
decisões
referentes
a acréscimos e emendas às velhas regras; com o escôpo de aclarar,
condensar e corrigir, alterou a fraseologia dos Antient Charges; e,
posto que sua obra fôsse aprovada pelos Grandes Oficiais, diz-se que a
Grande Loja recusou sancionar essa nova redação, permanecendo a da
primeira edição como versão verdadeira” (vide “Astréa”, ano II, n.º 1,
pág. 15). A
versão primitiva de 1723 é ainda hoje a reconhecida ortodoxa pela
própria Grande Loja Unida da Inglaterra e por tôda a Maçonaria
anglo-saxonia. É o suporte doutrinário dessas Potências e é a Carta
reconhecida por todos os maçons regulares em todos os países.
Lá está, no art. 1.º dos “Deveres dos Maçons – Concernente a Deus e à Religião”:
“Um
maçom é obrigado a obedecer à Lei Moral; e se êle bem entender da Arte,
nunca será um ateu estúpido nem um irreligioso libertino. Posto que nos
tempos antigos, os MM.'. tivessem a obrigação de seguir a religião do
próprio país ou Nação, qualquer que ela fôsse, presentemente julgou-se
mais conveniente obrigá-lo a praticar a religião, em que todos os homens
estão de acôrdo, deixando-lhes plena liberdade às convicções
particulares. Essa religião consiste em serem bons, sinceros, honrados,
de modo que possam ser diferenciados dos outros. Por êsse motivo, a
Maçonaria é considerada como centro de união e faculta os meios de se
estabelecer leal amizade entre pessoas que, sem ela, não se conheceriam”
(“Astréa”, acima citada, pág. 16: “Pequena Enciclopedia Maçônica”, de
Otaviano Bastos, 1ª. Ed., 1929, págs. 197-198; “Les Francs-Maçons”, de
Serge Hutin, ed. 1961, págs. 64-65).
Note-se: a Lei Moral Maçônica impede que o ateu se torne estúpido e libertino o irreligioso.
Como
se vê, Anderson impôs condições morais, não condições espirituais. Êle
fazia, realmente, da liberdade de consciência o fundamento da Ordem
Maçônica.
A
segunda edição, porém, do “Livro das Constituições”, quinze anos mais
tarde (1738), inovou: pretendeu estabelecer a necessidade de crer na
existência de um Deus Pessoal. Eis o famoso texto modificado:
“Se
bem que nos tempos antigos os maçons fossem obrigados a submeter-se aos
usos cristãos de cada país, êles são hoje obrigados a conforma-se à Lei
Moral, como um
verdadeiro noaquita”. Em outras palavras: o noaquita ou noaquida é o descendente do Noé ou, genèricamente, todo aquele que observa escrupulosamente os preceitos determinados por Deus a êsse patriarca, após o dilúvio.
Essa 2ª. Edição do “Livro das Constituições” pretendia destarte impor uma formação religiosa ao maçom. Anderson e seu grande colaborador Desaguliers eram presbiterianos. Por isso, o retôrno à religiosidade pôde buscar inspiração no Velho Testamento, quando o mais espontâneo seria inspirar-se nas Antigas Obrigações (Old Charges) da Maçonaria inglêsa e nos Regulamentos dos Maçons operativos do continente (trabalhadores de pedra da Alemanha e de Veneza, por exemplo), que eram essencialmente católicos. Êsse aspecto de parcialidade religiosa, sem dúvida, influiu no abandono da 2ª. Edição do “Livro das Constituições”. Eram duas correntes religiosas, que se defrontavam: basta lembrar que Miguel Ramsay, da Escócia, católico, discípulo de Fenelon, pretendeu em 1728 lançar os fundamentos de uma nova Maçonaria e evitou qualquer contacto com Anderson e Desaguliers, por serem êsses protestantes.
Nada existe, pois, no texto vigente do “Livro da Constituições” de Anderson, que justifique a imputação de irregulidariedade, que se assacou ao Rito Francês ou Moderno, após a reforma de 1877.
E mais: os Ritos deístas estabeleceram, com o correr dos tempos um conjunto de requisitos ferais e especiais (êsses para graus simbólicos), necessários à regularidade maçônica. O Rito Francês ou Moderno satisfaz a tôdas essas exigências, absolutamente tôdas, salvo a adoção do símbolo do Grande Arq:. Do Univ:. e o uso consequente do L:. S:. sôbre o Altar dos Juramentos, como veremos; o Rito emprega Sinais, Toques e Palavras para cada grau; desenvolve as cerimônias por meio de fórmulas misteriosas e emblemáticas dentro dos Templos, com símbolos da construção universal; usa no 1.º grau o Gabinete de Reflexões para o neófito, desenvolve na iniciação o cultivo da Moral, da Fraternidade e da Tolerância e explica as viagens simbólicas; no 2.º grau glorifica, na cerimônia iniciática, o trabalho, e o emprêgo das respectivas ferramentas e o aprimoramento das ciências e das artes ; no 3.º grau adota a Lenda de Hiram e a sua analogia com o princípio científico de que a vida nasce da morte.
Tudo isso se contém nos três graus simbólicos do Rito Francês ou Moderno. Só não há nele a afirmação dogmática. Evidentemente, assim é, porque o Rito é agnóstico, o que aliás não contraria o cânone, já citado, do Livro das Constituições de Anderson,
solenemente aprovado como codificação da Lei Maçônica, em 17 de janeiro de 1723, pelos maçons inglêses, e ainda hoje obedecido em todo o mundo maçônico regular.
Demais, os Ritos deístas, que no caso importam, são o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito de York, cujas raízes estão, respectivamente, no cristianismo e no mosaismo. É clara impertinência êsses Ritos estabeleceram regras de regularidade para qualquer outro sistema, erguido sôbre outros fundamentos. (7).
Há ainda uma terceira ordem de considerações. O Rito Francês ou Moderno, como é hoje praticado, continua observando todos os landmarques da Ordem, isto é, a súmula dos Preceitos Tradicionais ou a Regra Tradicional da Maçonaria, inspirada no Livro das Constituições.
No decorrer do tempo, várias têm sido as compilações dos landmarques. A mais conhecida é de Alberto Machey, autor da famosa “Enciclopedia da Franco-Maçonaria”. Machey era de Charleston, Estados Unidos. Professou o Rito de York e foi amigo dileto do Ir:. Pike, autor de outro livro famoso: “Moral e Dógma do Rito Escocês Antigo e Aceito”.
Os landmarques, compilados por Machey, incluem preceitos relativos ao Grão-Mestrado e, naturalmente por ser êle deista, os relativos ao Gr:. Arq:. do Univ:., à imortalidade da alma e ao L:. da L:. Se excluirmos aquela matéria não pertinente ao Rito e esta, que é dogmática e não exigida por Anderson, todos os demais landmarques tradicionais continuam observados pelo Rito Francês ou Moderno. Senão, vejamos: os processos de reconhecimento, a divisão da Maçonaria em três graus, a lenda de Hiram, a congregação dos maçons em Loja, o govêrno da Loja por um Venerável e dois Vigilantes, a Loja estará a coberto quando reunida, os direitos de representação e de recurso assegurados aos irmãos, o direito de visitação, a trolha ao visitante desconhecido, a proibição de uma Loja se imiscuir em assuntos de outra ou conferir grau a irmão de outra Loja, a submissão do maçom à lei maçônica de seu Oriente, sómente homem o candidato à iniciação, sendo isento de defeitos físicos, livre e maior; a igualdade dos maçons em Loja, não influindo a situação profana; o conservação secreta dos SS:., TT:. e PP:. e o uso dos símbolos como fontes de ensinamento moral.
Tudo isso está nos landmarques da Ordem. Tudo isso está também no Rito Francês ou Moderno. Onde a sua irregularidade?
6. Conviria ao Rito Francês ou Moderno voltar, no brasil, aos Rituais primitivos, isto é, aos Rituais deístas?
O Muito Pod:. e Subl:. Gr:. Cap:. do Rito Moderno poderia, se o quisesse, repudiar os atuais Rituais e adotar os anteriores à reforma de 1877, revisando-os ou não. A Oficina-Chefe de Rito, no Brasil, tem poderes para tanto. É mandatária exclusiva do Rito no Brasil.
Penso, porém, que não deve fazê-lo. É preciso que a Maçonaria mantenha a porta aberta para todos os homens livres e de bons costumes, sejam crentes ou não.
Em minha opinião pessoal, O Rito Moderno deve continuar com o seu caráter agnóstico.
Há tempos, em uma conferência no Oriente de Juiz de Fora, no Templo da Gr:. Ben:. Caridade e Firmeza, proferi estas palavras, que definem meu pensamento:
“Existem pessoas, notoriamente nobres e dignas, que entretanto não atingem o Gr:. Arq:. do Universo.
Não falo só dos que permanecem aprisionados e entediados no ceticismo; refiro-me também aos que investigam e procuram a solução de seus anseios filosóficos e religiosos e não o decifram; aludo ainda aos que procuram Deus com os cinco sentidos na Natureza, e não no íntimo do coração, e por isso não O acham; reporto-me por igual aos que não podem aceitar a imanência, em vez da contingência, àqueles cujo espírito rejeita a intuição e quer lógica. Esses constituem a imensa massa dos inconformados com a contradição da Vida e não podem conciliar as dores e as injustiças do mundo com a onipotência e a bondade de Deus. Surpreende-os a presença do Mal na Terra: um mistério, muitas vêzes triunfante, e o Bem espezinhado.
Êsses homens positivos, realistas e pragmáticos não encontram a resposta transcendente, porque teológicamente a humanidade se acha em estado peregrinal, êles, porém, precisam receber também fraterna acolhida na Maçonaria, por serem, consigo próprios, honestos e coerentes. Há, sem dúvida, merecimento no incréu que faz o bem pelo bem, sem esperar a recompensa de Deus, que êle não alcança, e sem temor do inferno, que êle desconhece. Concordo com aqueles que afirmam que o homem bom, crente ou não, sempre encontrará, no fim da jornada, a Deus, que o espera.
Só o Rito Moderno pode receber a todos os homens bons, crentes ou não. Êsse Rito é o único sistema de caráter agnóstico existente na Maçonaria Universal. Êle observa uma atitude rigorosamente abstencionista, em face de tôda crença, como de tôda crença. Êle não inclui, em sua doutrina, as exigências dogmáticas do Gr:. Arq:. do Univ:. e da imortalidade da alma. Perante essas categorias máximas da metafísica humana, o Rito, como instituição, passa de largo, sem conhecê-las, deixando-as à apreciação da consciência individual de cada um. Essa atitude abstencionista, que não é atéia, permite que trabalhem, sem constrangimento, nas Lojas do Rito Moderno, maçons deístas, ao lado de maçons agnósticos e de não crentes”.
Com estas palavras, pronunciadas no Oriente de Juiz de Fora, procurava exaltar a afirmação de Tolerância do Rito Moderno, que se situa na vanguarda da Maçonaria, porque proclama a sua universalidade, acima de tôda opinião, crença ou filosofia. (8).
Lamartine, que não era Maçom, mas admirava a Ordem, escreveu em 27 de setembro de 1858 aos irmãos da Loja Maçon estas palavras: “Na minha opinião, sois os grandes ecléticos do mundo moderno; escolheis em todos os sistemas, em tôdas as filosofias, os princípios evidentes, eternos e imutáveis da moral universal e com êles erigis a regra infalível e unânime da fraternidade. Repelis tudo quanto divide os espíritos, professais tudo o que une os corações, sois os construtores da concórdia. Vossos instrumentos de trabalho põem o cimento da virtude nos fundamentos da sociedade”. (Serge Hutin, op. Cit., pág. 27).
O grande escritor dirigia-se aos maçons de França. Nenhum elogio maior poderia receber o Rito Francês ou Moderno.
7. Conclusões
1.ª O Rito Francês ou Moderno foi criado em 1761, constituído em 24 de dezembro de 1772 e proclamado pelo Grande Oriente de França em 9 de março de 1773. Ampliado para 7 graus, pela reforma litúrgica em 1786.
2.ª A concepção do Grande Arquiteto do Universo existiu, durante um século, nos Rituais do Rito Francês ou Moderno, como princípio fundamental.
3.ª Em 1877, a Assembléia Geral do Grande Oriente de França, órgão soberano, suprimiu essa afirmação dogmática, em nome da liberdade de consciência, mas não em nome de nenhuma doutrina ou filosofia. O Grande Colégio dos Ritos do Grande Oriente
de França foi compelido, em conseqüência, a reformular os Rituais e a suprimir à Bíblia do A:. dos Jur:. Êsses Rituais, como Hoje os lemos, são agnósticos.
4.ª A reforma constitucional de 1877 evidentemente só alcançava a jurisdição do Grande Oriente de França, mas os demais Grandes Orientes, inclusive o Grande Oriente do Brasil, onde se praticava o Rito, acompanharam aquela Potência.
5.ª Não tem base ou fundamento a imputação de irregularidade ao Rito Francês ou Moderno, em virtude da reforma operada. Entre outras razões, porque atende a todos os landmarques, exceto os dogmas, não exigíveis no “Livro da Constituições” de Anderson.
6.ª É lícito a qualquer Corpo Filosófico do Rito Francês ou Moderno, em qualquer país, repôs os Rituais em sua fonte deista primitiva. O nosso M:. Pod:. e Subl:. Gr:. Cap:. do Rito Moderno poderia fazê-lo, tanto mais quanto é anterior à reforma constitucional de 1877.
7.ª Em minha opinião pessoal, a reforma de 1877 foi útil e necessária, porque permite o ingresso, na Maçonaria, de elementos prestantes, porém agnósticos ou não crentes.
* *
Quero, agora, prezados Irmãos, finalizar esta palestra, louvando esta Aug:. Loja José do Patrocínio pela sua iniciativa de realizar os trabalhos preparatórios do 1.º Simpósio Brasileiro da Maçonaria Simbólica.
Esta Aug:. Oficina está erguendo no Poder Central o facho do aprimoramento maçônico. Nossa Ordem necessita, urgentemente, de uma renascença espiritual, larga e profunda.
Estamos no limiar de uma nova era. Não prevalecerá totalmente o Oeste, nem tampouco o Leste. A História nos mostra que no embate da Tese e da Antítese, resulta necessariamente a Síntese.
E nós, maçons, que em tôda a parte fomos os Construtores do Futuro, não podemos ficar na penosa situação de expectadores inanes e inúteis, quando a missão do maçom é reger, dirigir e comandar.
Honra, pois, a esta Loja, que se empenha em despertar e esclarecer a consciência do Povo Maçônico do Brasil.
Notas explicativas
(1) Não se trata da atual Grande Loja de França, escocesa, da Rua Puteaux.
(2) François Favre, “Documents maçonniques”, Paris, 1866, pág. 5.
(3) Até a data da reforma de 1877, a Maçonaria foi objeto de dez condenações papais. Os atos pontifícios contra a Maçonaria são os seguintes:
Constituição “In Eminenti” de 24 de abril de 1738, de Clemente XII;
Constituição “Providas”, de 18 de maio de 1751, de Bento XIV;
Constituição “Ecclesian in Jesu Christo”, de 13 de setembro de 1821, de Pio VII;
Constituição “Quo Graviora”, de 13 de março de 1825, de Leão XII;
Encíclica “Traditi”, de 21 de maio de 1829, de Pio VIII;
Encíclica “Mirari vos”, de 15 de agôsto de 1832, de Gregório XV;
Encíclica “Qui Pluribus”, de 9 de agôsto de 1846, de Pio IX;
Encíclica “Quanta cura”, de 8 de dezembro de 1864, de Pio IX;
Alocução “Multiplices inter”, de 26 de setembro de 1865, de Pio IX;
Bula “Apostolicoe Sede”, de 12 de outubro de 1869, de Pio IX.
(4) Tôdas as citações dos Boletins do Grande Oriente de França constam das páginas 179 e seguintes do “Commentaire de la Constitution et du Règlement Général”, anexo ao volume da “Constitution et Règlement Général de la Federation”, ed. 1899, 11.ª tiragem, editado em Paris pelo Secretariat Général du Grand Orient de France.
(5) A expressão Franco-Maçonaria não quer dizer Maçonaria francesa e sim Maçonaria livre.
(6) O movimento de opinião para a supressão da fórmula: “À Glória do Grande Arquiteto do Universo”, considerada atentatória à liberdade de pensamento, durou mais de um decênio. Em 5 de junho de 1865, a Assembléia Geral adotou
um texto de conciliação, doze anos antes da adoção do texto supressivo: “A Franco-Maçonaria tem por princípio a existência de Deus, a imortalidade da alma e a solidariedade humana. Ela admite a liberdade de consciência como um direito próprio a cada homem e não exclui ninguém por suas crenças”.
(7) Aliás, a Declaração de Princípios do Congresso de Lausanne dos Supremos Conselhos do Escocismo, em 1875 (dois anos antes da supressão do dógma no Grande Oriente de França), proclamou “a existência de um Princípio Criador, sob o nome de Grande Arquiteto do Universo”. Note-se: afirma-se a “existência” de um princípio criador, mas não se exige “crença” em um “Deus Criador”.
(8) Mesmo no período anterior a 1877, o Grande Oriente de França não era discriminativo, não impedia a admissão de agnósticos ou ateus. Entre outras provas, temos a iniciação de Voltaire, em 1778.
verdadeiro noaquita”. Em outras palavras: o noaquita ou noaquida é o descendente do Noé ou, genèricamente, todo aquele que observa escrupulosamente os preceitos determinados por Deus a êsse patriarca, após o dilúvio.
Essa 2ª. Edição do “Livro das Constituições” pretendia destarte impor uma formação religiosa ao maçom. Anderson e seu grande colaborador Desaguliers eram presbiterianos. Por isso, o retôrno à religiosidade pôde buscar inspiração no Velho Testamento, quando o mais espontâneo seria inspirar-se nas Antigas Obrigações (Old Charges) da Maçonaria inglêsa e nos Regulamentos dos Maçons operativos do continente (trabalhadores de pedra da Alemanha e de Veneza, por exemplo), que eram essencialmente católicos. Êsse aspecto de parcialidade religiosa, sem dúvida, influiu no abandono da 2ª. Edição do “Livro das Constituições”. Eram duas correntes religiosas, que se defrontavam: basta lembrar que Miguel Ramsay, da Escócia, católico, discípulo de Fenelon, pretendeu em 1728 lançar os fundamentos de uma nova Maçonaria e evitou qualquer contacto com Anderson e Desaguliers, por serem êsses protestantes.
Nada existe, pois, no texto vigente do “Livro da Constituições” de Anderson, que justifique a imputação de irregulidariedade, que se assacou ao Rito Francês ou Moderno, após a reforma de 1877.
E mais: os Ritos deístas estabeleceram, com o correr dos tempos um conjunto de requisitos ferais e especiais (êsses para graus simbólicos), necessários à regularidade maçônica. O Rito Francês ou Moderno satisfaz a tôdas essas exigências, absolutamente tôdas, salvo a adoção do símbolo do Grande Arq:. Do Univ:. e o uso consequente do L:. S:. sôbre o Altar dos Juramentos, como veremos; o Rito emprega Sinais, Toques e Palavras para cada grau; desenvolve as cerimônias por meio de fórmulas misteriosas e emblemáticas dentro dos Templos, com símbolos da construção universal; usa no 1.º grau o Gabinete de Reflexões para o neófito, desenvolve na iniciação o cultivo da Moral, da Fraternidade e da Tolerância e explica as viagens simbólicas; no 2.º grau glorifica, na cerimônia iniciática, o trabalho, e o emprêgo das respectivas ferramentas e o aprimoramento das ciências e das artes ; no 3.º grau adota a Lenda de Hiram e a sua analogia com o princípio científico de que a vida nasce da morte.
Tudo isso se contém nos três graus simbólicos do Rito Francês ou Moderno. Só não há nele a afirmação dogmática. Evidentemente, assim é, porque o Rito é agnóstico, o que aliás não contraria o cânone, já citado, do Livro das Constituições de Anderson,
solenemente aprovado como codificação da Lei Maçônica, em 17 de janeiro de 1723, pelos maçons inglêses, e ainda hoje obedecido em todo o mundo maçônico regular.
Demais, os Ritos deístas, que no caso importam, são o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito de York, cujas raízes estão, respectivamente, no cristianismo e no mosaismo. É clara impertinência êsses Ritos estabeleceram regras de regularidade para qualquer outro sistema, erguido sôbre outros fundamentos. (7).
Há ainda uma terceira ordem de considerações. O Rito Francês ou Moderno, como é hoje praticado, continua observando todos os landmarques da Ordem, isto é, a súmula dos Preceitos Tradicionais ou a Regra Tradicional da Maçonaria, inspirada no Livro das Constituições.
No decorrer do tempo, várias têm sido as compilações dos landmarques. A mais conhecida é de Alberto Machey, autor da famosa “Enciclopedia da Franco-Maçonaria”. Machey era de Charleston, Estados Unidos. Professou o Rito de York e foi amigo dileto do Ir:. Pike, autor de outro livro famoso: “Moral e Dógma do Rito Escocês Antigo e Aceito”.
Os landmarques, compilados por Machey, incluem preceitos relativos ao Grão-Mestrado e, naturalmente por ser êle deista, os relativos ao Gr:. Arq:. do Univ:., à imortalidade da alma e ao L:. da L:. Se excluirmos aquela matéria não pertinente ao Rito e esta, que é dogmática e não exigida por Anderson, todos os demais landmarques tradicionais continuam observados pelo Rito Francês ou Moderno. Senão, vejamos: os processos de reconhecimento, a divisão da Maçonaria em três graus, a lenda de Hiram, a congregação dos maçons em Loja, o govêrno da Loja por um Venerável e dois Vigilantes, a Loja estará a coberto quando reunida, os direitos de representação e de recurso assegurados aos irmãos, o direito de visitação, a trolha ao visitante desconhecido, a proibição de uma Loja se imiscuir em assuntos de outra ou conferir grau a irmão de outra Loja, a submissão do maçom à lei maçônica de seu Oriente, sómente homem o candidato à iniciação, sendo isento de defeitos físicos, livre e maior; a igualdade dos maçons em Loja, não influindo a situação profana; o conservação secreta dos SS:., TT:. e PP:. e o uso dos símbolos como fontes de ensinamento moral.
Tudo isso está nos landmarques da Ordem. Tudo isso está também no Rito Francês ou Moderno. Onde a sua irregularidade?
6. Conviria ao Rito Francês ou Moderno voltar, no brasil, aos Rituais primitivos, isto é, aos Rituais deístas?
O Muito Pod:. e Subl:. Gr:. Cap:. do Rito Moderno poderia, se o quisesse, repudiar os atuais Rituais e adotar os anteriores à reforma de 1877, revisando-os ou não. A Oficina-Chefe de Rito, no Brasil, tem poderes para tanto. É mandatária exclusiva do Rito no Brasil.
Penso, porém, que não deve fazê-lo. É preciso que a Maçonaria mantenha a porta aberta para todos os homens livres e de bons costumes, sejam crentes ou não.
Em minha opinião pessoal, O Rito Moderno deve continuar com o seu caráter agnóstico.
Há tempos, em uma conferência no Oriente de Juiz de Fora, no Templo da Gr:. Ben:. Caridade e Firmeza, proferi estas palavras, que definem meu pensamento:
“Existem pessoas, notoriamente nobres e dignas, que entretanto não atingem o Gr:. Arq:. do Universo.
Não falo só dos que permanecem aprisionados e entediados no ceticismo; refiro-me também aos que investigam e procuram a solução de seus anseios filosóficos e religiosos e não o decifram; aludo ainda aos que procuram Deus com os cinco sentidos na Natureza, e não no íntimo do coração, e por isso não O acham; reporto-me por igual aos que não podem aceitar a imanência, em vez da contingência, àqueles cujo espírito rejeita a intuição e quer lógica. Esses constituem a imensa massa dos inconformados com a contradição da Vida e não podem conciliar as dores e as injustiças do mundo com a onipotência e a bondade de Deus. Surpreende-os a presença do Mal na Terra: um mistério, muitas vêzes triunfante, e o Bem espezinhado.
Êsses homens positivos, realistas e pragmáticos não encontram a resposta transcendente, porque teológicamente a humanidade se acha em estado peregrinal, êles, porém, precisam receber também fraterna acolhida na Maçonaria, por serem, consigo próprios, honestos e coerentes. Há, sem dúvida, merecimento no incréu que faz o bem pelo bem, sem esperar a recompensa de Deus, que êle não alcança, e sem temor do inferno, que êle desconhece. Concordo com aqueles que afirmam que o homem bom, crente ou não, sempre encontrará, no fim da jornada, a Deus, que o espera.
Só o Rito Moderno pode receber a todos os homens bons, crentes ou não. Êsse Rito é o único sistema de caráter agnóstico existente na Maçonaria Universal. Êle observa uma atitude rigorosamente abstencionista, em face de tôda crença, como de tôda crença. Êle não inclui, em sua doutrina, as exigências dogmáticas do Gr:. Arq:. do Univ:. e da imortalidade da alma. Perante essas categorias máximas da metafísica humana, o Rito, como instituição, passa de largo, sem conhecê-las, deixando-as à apreciação da consciência individual de cada um. Essa atitude abstencionista, que não é atéia, permite que trabalhem, sem constrangimento, nas Lojas do Rito Moderno, maçons deístas, ao lado de maçons agnósticos e de não crentes”.
Com estas palavras, pronunciadas no Oriente de Juiz de Fora, procurava exaltar a afirmação de Tolerância do Rito Moderno, que se situa na vanguarda da Maçonaria, porque proclama a sua universalidade, acima de tôda opinião, crença ou filosofia. (8).
Lamartine, que não era Maçom, mas admirava a Ordem, escreveu em 27 de setembro de 1858 aos irmãos da Loja Maçon estas palavras: “Na minha opinião, sois os grandes ecléticos do mundo moderno; escolheis em todos os sistemas, em tôdas as filosofias, os princípios evidentes, eternos e imutáveis da moral universal e com êles erigis a regra infalível e unânime da fraternidade. Repelis tudo quanto divide os espíritos, professais tudo o que une os corações, sois os construtores da concórdia. Vossos instrumentos de trabalho põem o cimento da virtude nos fundamentos da sociedade”. (Serge Hutin, op. Cit., pág. 27).
O grande escritor dirigia-se aos maçons de França. Nenhum elogio maior poderia receber o Rito Francês ou Moderno.
7. Conclusões
1.ª O Rito Francês ou Moderno foi criado em 1761, constituído em 24 de dezembro de 1772 e proclamado pelo Grande Oriente de França em 9 de março de 1773. Ampliado para 7 graus, pela reforma litúrgica em 1786.
2.ª A concepção do Grande Arquiteto do Universo existiu, durante um século, nos Rituais do Rito Francês ou Moderno, como princípio fundamental.
3.ª Em 1877, a Assembléia Geral do Grande Oriente de França, órgão soberano, suprimiu essa afirmação dogmática, em nome da liberdade de consciência, mas não em nome de nenhuma doutrina ou filosofia. O Grande Colégio dos Ritos do Grande Oriente
de França foi compelido, em conseqüência, a reformular os Rituais e a suprimir à Bíblia do A:. dos Jur:. Êsses Rituais, como Hoje os lemos, são agnósticos.
4.ª A reforma constitucional de 1877 evidentemente só alcançava a jurisdição do Grande Oriente de França, mas os demais Grandes Orientes, inclusive o Grande Oriente do Brasil, onde se praticava o Rito, acompanharam aquela Potência.
5.ª Não tem base ou fundamento a imputação de irregularidade ao Rito Francês ou Moderno, em virtude da reforma operada. Entre outras razões, porque atende a todos os landmarques, exceto os dogmas, não exigíveis no “Livro da Constituições” de Anderson.
6.ª É lícito a qualquer Corpo Filosófico do Rito Francês ou Moderno, em qualquer país, repôs os Rituais em sua fonte deista primitiva. O nosso M:. Pod:. e Subl:. Gr:. Cap:. do Rito Moderno poderia fazê-lo, tanto mais quanto é anterior à reforma constitucional de 1877.
7.ª Em minha opinião pessoal, a reforma de 1877 foi útil e necessária, porque permite o ingresso, na Maçonaria, de elementos prestantes, porém agnósticos ou não crentes.
* *
Quero, agora, prezados Irmãos, finalizar esta palestra, louvando esta Aug:. Loja José do Patrocínio pela sua iniciativa de realizar os trabalhos preparatórios do 1.º Simpósio Brasileiro da Maçonaria Simbólica.
Esta Aug:. Oficina está erguendo no Poder Central o facho do aprimoramento maçônico. Nossa Ordem necessita, urgentemente, de uma renascença espiritual, larga e profunda.
Estamos no limiar de uma nova era. Não prevalecerá totalmente o Oeste, nem tampouco o Leste. A História nos mostra que no embate da Tese e da Antítese, resulta necessariamente a Síntese.
E nós, maçons, que em tôda a parte fomos os Construtores do Futuro, não podemos ficar na penosa situação de expectadores inanes e inúteis, quando a missão do maçom é reger, dirigir e comandar.
Honra, pois, a esta Loja, que se empenha em despertar e esclarecer a consciência do Povo Maçônico do Brasil.
Notas explicativas
(1) Não se trata da atual Grande Loja de França, escocesa, da Rua Puteaux.
(2) François Favre, “Documents maçonniques”, Paris, 1866, pág. 5.
(3) Até a data da reforma de 1877, a Maçonaria foi objeto de dez condenações papais. Os atos pontifícios contra a Maçonaria são os seguintes:
Constituição “In Eminenti” de 24 de abril de 1738, de Clemente XII;
Constituição “Providas”, de 18 de maio de 1751, de Bento XIV;
Constituição “Ecclesian in Jesu Christo”, de 13 de setembro de 1821, de Pio VII;
Constituição “Quo Graviora”, de 13 de março de 1825, de Leão XII;
Encíclica “Traditi”, de 21 de maio de 1829, de Pio VIII;
Encíclica “Mirari vos”, de 15 de agôsto de 1832, de Gregório XV;
Encíclica “Qui Pluribus”, de 9 de agôsto de 1846, de Pio IX;
Encíclica “Quanta cura”, de 8 de dezembro de 1864, de Pio IX;
Alocução “Multiplices inter”, de 26 de setembro de 1865, de Pio IX;
Bula “Apostolicoe Sede”, de 12 de outubro de 1869, de Pio IX.
(4) Tôdas as citações dos Boletins do Grande Oriente de França constam das páginas 179 e seguintes do “Commentaire de la Constitution et du Règlement Général”, anexo ao volume da “Constitution et Règlement Général de la Federation”, ed. 1899, 11.ª tiragem, editado em Paris pelo Secretariat Général du Grand Orient de France.
(5) A expressão Franco-Maçonaria não quer dizer Maçonaria francesa e sim Maçonaria livre.
(6) O movimento de opinião para a supressão da fórmula: “À Glória do Grande Arquiteto do Universo”, considerada atentatória à liberdade de pensamento, durou mais de um decênio. Em 5 de junho de 1865, a Assembléia Geral adotou
um texto de conciliação, doze anos antes da adoção do texto supressivo: “A Franco-Maçonaria tem por princípio a existência de Deus, a imortalidade da alma e a solidariedade humana. Ela admite a liberdade de consciência como um direito próprio a cada homem e não exclui ninguém por suas crenças”.
(7) Aliás, a Declaração de Princípios do Congresso de Lausanne dos Supremos Conselhos do Escocismo, em 1875 (dois anos antes da supressão do dógma no Grande Oriente de França), proclamou “a existência de um Princípio Criador, sob o nome de Grande Arquiteto do Universo”. Note-se: afirma-se a “existência” de um princípio criador, mas não se exige “crença” em um “Deus Criador”.
(8) Mesmo no período anterior a 1877, o Grande Oriente de França não era discriminativo, não impedia a admissão de agnósticos ou ateus. Entre outras provas, temos a iniciação de Voltaire, em 1778.
Fraterno Abraço
RuyR@mires.'.
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