"Non nobis, Domine, non nobis, sed Nomini Tuo da Gloriam"
("Não para nós, Senhor, não para nós, mas para a Glória de Teu Nome")
(Salmo de David e Lema Templário)
A
Ordem Templária foi fundada em Jerusalém em 1118, logo após a Primeira
Cruzada, mesmo havendo alguns indícios de ter sido fundada quatro anos
antes. Seu nome está relacionado ao local de seu primeiro
quartel-general, no lugar do antigo Templo de Salomão.
Nove
monges veteranos dessa Primeira Cruzada, entre eles Hugues de Payens e
Godofredo de Saint Omer, reuniram-se para fundar a Ordem em defesa da
Terra Santa. Pronunciaram perante o patriarca de Jerusalém, Garimond, os
votos de castidade, de pobreza e de obediência, comprometendo-se,
solenemente, a fazer tudo aquilo que estivesse ao seu alcance para
garantir as rotas e os caminhos e a defender os peregrinos contra os
assaltos e os ataques dos infiéis. Foi dada a fundação da Ordre de Sion
(Ordem de Sião) a Godofredo de Bouillon, por volta de 1099. A original
Ordem de Sião foi estabelecida para que muçulmanos, judeus e outros
indivíduos elegíveis pudessem aliar-se à Ordem cristã e tornar-se
Templários.
Frequentemente
podemos encontrar os Templários sendo denominados Soldados de Cristo
(Christi Milites), Soldados de Cristo e do Templo de Salomão. A regra
que lhes foi concedida por ocasião do Concílio de Troyes, em Champagne,
é: Regula pauperum commilitonum Christi Templique Salomonici.
Eles,
no começo, viviam exclusivamente da caridade, e tamanha era sua pobreza
que não podiam ter mais do que um só cavalo cada um. O antigo sinete da
Ordem, no qual aparece a representação de dois cavaleiros em um só
cavalo, comprova essa humildade primitiva.
O bispo de Chartres escreveu a respeito dos Templários em 1114, chamando-os de Milice du Christi (Soldados de Cristo).
O
primeiro Grão-Mestre da Ordem foi Hugues de Payens, certamente um homem
superior. Durante toda a sua vida, testemunhou um pensamento seguro e
uma indomável coragem. Inspirado pelo espírito cavalheiresco de seu
século, ele não podia ter se tornado apenas um cruzado cujo nome caiu no
esquecimento, como o de tantos outros nobres e bravos senhores. Era
grandioso armar-se com oito soldados contra legiões numerosas;
oferecer-se, sob um céu implacável, aos golpes de um inimigo que
observava atentamente sua empreitada e que podia afogá-lo
definitivamente, já no primeiro combate, no sangue de seu punhado de
bravos.
E
foi assim que viveram durante dez anos. Sem pedir reforços nem
subsídios, nenhuma recompensa, nenhuma prebenda esperava por eles.
Viviam segundo suas próprias leis, vestidos e alimentados pela caridade
cristã.
Martin
Lunn, em seu livro Revelando o Código de Da Vinci (Madras Editora),
fala-nos do Priorado de Sião, que compartilhava com a Ordem do Templo
(Cavaleiros Templários) o mesmo Grão-Mestre; eram dois braços da mesma
organização até algo conhecido como a “Corte do Olmo”, que aconteceu em
Gisors, em 1118. Essa separação entre as duas Ordens foi supostamente
causada pela chamada “traição” do Grão-Mestre Gerard de Ridefort que, de
acordo com os Dossiês Secretos, resultou na perda de Jerusalém pela
Europa para os sarracenos.
Quando
do Concílio de Troyes (1128), Hugues e outros seis Cavaleiros
compareceram diante dos mais altos dignitários da Igreja. O papa e o
patriarca Étienne lhes deram um hábito, e o célebre abade de Clarval,
São Bernardo de Clairvaux, encarregou-se da composição de sua regra,
modificando parcialmente os estatutos primitivos da sociedade. Foi
também São Bernardo quem revitalizou a Igreja Celta da Escócia e
reconstruiu o mosteiro de Columba, em Iona (tal mosteiro havia sido
destruído em 807 por piratas nórdicos). O juramento dos Cavaleiros
Templários a São Bernardo exigia a “Obediência de Betânia – o castelo de
Maria e Marta”.
Durante
a era das cruzadas, que perfazem um total de oito e as quais
continuaram até 1291 no Egito, na Síria e na Palestina, apenas a
primeira, de Godofredo, foi de alguma utilidade, como afirma Laurence
Gardner, um magnifico autor: “(…) Mas mesmo essa foi
desfigurada pelos excessos das tropas responsáveis que usaram sua
vitória como desculpa para o massacre de muçulmanos nas ruas de
Jerusalém. Não apenas Jerusalém era importante para os judeus e
cristãos, porém se tornara a terceira Cidade Santa do Islã, após Meca e
Medina. Como tal, a cidade até hoje está no cerne de contínuas disputas.
(Embora os muçulmanos sunitas considerem Jerusalém sua terceira cidade
Sagrada, os muçulmanos xiitas colocam-na em quarto lugar após Carabala,
no sul do Iraque.)
A
segunda cruzada para Odessa, liderada por Luiz VII da França e pelo
imperador alemão Conrado III, fracassou miseravelmente. Então, cerca de
cem anos após o sucesso inicial de Godofredo, Jerusalém caiu sob o poder
de Saladino do Egito, em 1187. Foi quando engatilhou a terceira cruzada
de Felipe Augusto, da França, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra,
que, entretanto, não conseguiram recuperar a Cidade Santa. A quarta e
quinta cruzadas concentraram-se em Constantinopla e Damieta. Jerusalém
foi retomada brevemente dos sarracenos após a sexta cruzada, mas ficou
longe de reverter a situação. Por volta de 1291, a Palestina e a Síria
estavam firmemente sob o controle muçulmano e as cruzadas haviam
terminado.
Vejamos
alguns preceitos da nova legislação, mas é importante lembrarmos que
nessa época os cavaleiros não eram classificados em graus como os
nobres. Todo homem que não fosse sacerdote ou servo podia aspirar à
Cavalaria e à nobreza moderna tinha aí sua origem. A partícula de não
indicava seus nomes, mas a cidade, a vila ou o lugarejo que habitavam.
Mais tarde, o nome de sua residência transformou-se em seu nome de
família.
Todos
os cavaleiros que tenham professado vestem mantos brancos de
comprimento médio. Os mantos usados são entregues aos Escudeiros e
irmãos servos, ou aos pobres.
Os mantos brancos que os escudeiros e servos vestiam originalmente foram substituídos por mantos negros ou cinzas.
Apenas os cavaleiros vestem mantos brancos.
Cada cavaleiro possui três cavalos, pois a pobreza não permite que tenham mais que isso.
Cada cavaleiro tem somente um escudeiro ao qual não poderá castigar, já que ele o serve gratuitamente.
Ninguém pode sair, escrever ou ler cartas sem autorização do Grão-Mestre.
Os cavaleiros casados habitam à parte e não vestem clâmides ou mantos brancos.
Os
cavaleiros seculares que desejam ser admitidos no Templo serão
examinados e ouvirão a leitura da regra antes de seu noviciado.
O
Grão-Mestre escolhe seu capítulo dentre seus Irmãos. Nos casos
importantes que dizem respeito à Ordem ou na admissão de um Irmão, todos
podem ser chamados para o capítulo, se essa for a vontade do chefe.
Na
obra A História dos Cavaleiros Templários, de Élize de Montagnac, da
Madras Editora, encontramos um texto muito oportuno a respeito da
iniciação, que passamos a transcrever: “(…) Os estatutos e regulamentos
recomendavam, acima de tudo, a prece, a caridade, a esmola, a modéstia, o
silêncio, a simplicidade, o desdém à riqueza e à opulência, a
abnegação, a obediência, a proteção aos pobres e oprimidos; cuidar dos
enfermos; o respeito aos mortos entre outros”. Tal Código de regras é
composto de 72 artigos e foi descoberto em 1610, em Paris, por
Aubert-le-Mire, cientista e historiador, decano de Anvers.
Mas
a cada dia os regulamentos concernentes à hierarquia, à disciplina e ao
cerimonial eram ajustados e adaptados ao Código Latino, assim declarado
perfectível.
“Portanto
não é de se surpreender que, além desse, hoje são conhecidos outros
três códigos manuscritos, os quais não são nada mais do que sua
continuação. Um foi descoberto em 1794, na biblioteca do príncipe
Corsini, pelo cientista dinamarquês Münster; o outro foi encontrado na
biblioteca Real por M. Guérard, conservador e restaurador; o terceiro
foi encontrado nos arquivos gerais de Dijon por M. Millard de Cambure,
mantenedor dos arquivos de Borgúndia.”
E
desse último, datado de 1840, é que extraímos a descrição do modo de
iniciação dos irmãos cavaleiros; a verdade sobre essas recepções nos
sugere serem elas revestidas de um grande interesse, após as absurdas e
terríveis lendas que as cercam. Por favor, observem a quantidade de
coincidências com nossos rituais (maçônicos).
“Antes
que um novo Irmão fosse recebido, era necessário sondar os espíritos
para saber se ele vinha de Deus: Probate Spititus, si ex Deo Sunt. Em
razão disso, ao longo de certo período, impunham-se ao candidato
diversas privações de todas as naturezas; incumbiam-lhe os trabalhos
mais pesados e baixos da casa, tais como: cuidar do fogão e da cozinha,
girar o moinho, cuidar das montarias, tratar dos porcos, etc. Após isso,
procedia-se à admissão, a qual era feita da seguinte forma:
A
Assembléia reunia-se, ordinariamente, à noite. O candidato esperava do
lado de fora; por três vezes, dois cavaleiros se dirigiam a ele para
perguntar-lhe o que ele desejava; e por três vezes o candidato respondia
que era sua vontade adentrar a Casa. A seguir, então, o candidato era
conduzido à Assembléia, e o Grão-Mestre, ou aquele que presidia a sessão
em seu lugar, apresentava-lhe tudo de rude e penoso que o aguardava
naquela vida em que estava prestes a entrar. Dizia-lhe: ‘Devereis ficar
desperto e alerta quando mais quiserdes dormir, suportar o cansaço
quando mais quiserdes repousar. Quando sentirdes fome e quiserdes comer,
ser-vos-á ordenado que vades aqui ou acolá, sem vos ser dada nenhuma
explicação ou motivo. Pensai bem, meu querido Irmão, se sereis capaz de
sofrer todas as asperezas.’ Se o candidato respondesse ‘Sim, eu me
submeterei a todas, se assim agradar a Deus!’, o Mestre complementava:
‘Estai ciente, querido Irmão, de que não deveis pedir a companhia da
Casa para obter benesses, honrarias e riquezas, nem satisfazer o vosso
corpo, principalmente em relação a três aspectos:
1º, Evitar e fugir dos pecados deste mundo;
2º, Servir ao nosso Senhor;
3º, Ser pobre e fazer a penitência nesta vida para a santidade da alma.
Sabei também que sereis, a cada dia de vossa existência, um servo e escravo da Casa.
Estais certo de vossa decisão?’
‘Sim, se assim agradar a Deus, Senhor’.
‘Estais disposto a renunciar para sempre à vossa própria vontade, e nada mais fazer além daquilo que vos for determinado?’
‘Sim, se assim agradar a Deus, Senhor’.
‘Então, retirai-vos e orai a nosso Senhor para que Ele vos aconselhe’.
Assim
que o candidato se retirava, o presidente da Assembléia continuava:
‘Beatos senhores, puderam constatar que essa pessoa demonstrou ser
possuidora de um grande desejo de ingressar na Casa, e declarou estar
disposta a dedicar toda a sua vida como servo e escravo. Se há entre
vocês alguém que saiba alguma coisa que possa impedir que essa pessoa
seja recebida como cavaleiro, que nos dê conhecimento agora, pois, após
sua admissão, ninguém mais terá crédito para fazê-lo’. Caso nenhuma
contestação fosse apresentada, o Mestre perguntava: ‘Admitamo-lo como
oriundo de Deus?’
‘Por inexistir qualquer oposição, fazei-o retornar como vindo de Deus.’
Então um dos membros que se manifestaram saía ao seu encontro e o instruía como ele deveria pedir seu ingresso.
Retornando à Assembléia, o recipiendário ajoelhava-se e, com as mãos postas, dizia:
‘Senhor,
eu compareço perante Deus, perante vós e perante os Irmãos, para vos
pedir e implorar em nome de Deus e de Nossa Senhora que me acolham em
vossa Irmandade, e nos benefícios da Casa, espiritual e materialmente,
como um que será servo e escravo da Casa, em cada um dos dias de toda a
sua vida.’
O
presidente da Assembléia lhe respondia: ‘Pensastes bem? Ainda pensais
em renunciar à vossa vontade em favor do próximo? Estais decidido a
submeter a todas as dificuldades e asperezas que vigoram na Casa e a
cumprir tudo aquilo que vos for mandado?’
‘Sim, se assim agradar a Deus, Senhor.’
E continuava o presidente, agora se dirigindo aos cavaleiros presentes à Assembléia:
‘Então levantem-se, nobres senhores, e orem a Nosso Senhor e a Nossa Senhora Santa Maria pedindo que ele seja bem-sucedido.’
Em
seguida, cada um deles recitava um Pai-Nosso, enquanto os capelães
recitavam a oração ao Espírito Santo, e, em seguida, traziam o
Evangelho, sobre o qual o recipiendário prestava o seu juramento de
responder com franqueza, sinceridade e lealdade às questões seguintes:
1º, Não tendes nem esposa nem noiva?
2º, Não estais engajado em nenhuma outra Ordem; não fizestes nenhum outro voto, juramento ou promessa?
3º, Tendes alguma dívida convosco mesmo ou com algum outro, a qual não vos seja possível pagar?
4º, Estais em plena saúde física?
5º, Não destes, ou prometestes dar, dinheiro a nenhuma pessoa para que, assim, facilitasse vossa admissão à Ordem do Templo?
6º, Sois filho de um cavaleiro e de uma dama; pertencem vossos pais à linhagem dos cavaleiros?
7º, Não sois nem padre, nem diácono, nem subdiácono?
8º, Não fostes excomungado?
Procurai não mentir, pois, se o fizerdes, sereis considerado perjuro e tereis de abandonar a Casa.
Concluído
esse interrogatório, o Grão-Mestre, ou aquele que substituía, ainda se
dirigindo à Assembléia, indagava se ainda havia algumas outras perguntas
a serem formuladas e, caso reinasse o silêncio, ele se voltava ao
recipiendário, dizendo:
‘Ouvi bem, meu caro Irmão, o que ainda vos vamos pedir:
Prometei
a Deus e a Nossa Senhora que, ao longo de toda a vossa vida,
obedecereis ao Mestre do Templo e ao comandante sob cujas ordens
estareis sujeito.
E mais: que todos os dias de vossa vida vivereis imaculado.
E
mais ainda: prometei a Deus e a Nossa Senhora Santa Maria que, em todos
os dias de vossa vida, respeitareis os bons costumes vigentes na Casa e
aqueles que os Mestres e os doutos haverão de acrescentar.
Mais:
que, em cada um dos dias de vossa vida, ajudareis, com todas as forças e
com todo o poder que Deus vos outorgou, a conquistar a Terra Santa de
Jerusalém e a proteger e defender as propriedades dos cristãos.
E ainda: que jamais abandonareis essa religião em favor de outra, seja ela qual for, sem permissão do Grão-Mestre e da Assembléia, etc.’
E ainda: que jamais abandonareis essa religião em favor de outra, seja ela qual for, sem permissão do Grão-Mestre e da Assembléia, etc.’
E a cada vez o futuro Cavaleiro devia responder:
‘Sim, se assim agradar a Deus, Senhor.’
Isso feito, aquele que conduzia a Assembléia assim anunciava sua admissão:
‘Vós,
por Deus e por Nossa Senhora, por São Pedro de Roma, por nosso Padre
Apóstolo e por todos os Irmãos do Templo, acolhei, vosso pai e mãe, e
todos aqueles que foram acolhidos em vossa linhagem e em todos os
benefícios que já fizeram e farão. E vos comprometeis sobre o pão e
sobre a água e sobre a pobre vestimenta da Casa, do sacrifício e do
trabalho farto.’
A
seguir, tomando o manto do templário, ele o colocava no pescoço do novo
cavaleiro, seguido pelo Irmão capelão que entoava o salmo:
‘Ecce quam Bonum et quam jucundum habitare in unum…’ (‘Oh! Quão bom e quão agradável viverem unidos os Irmãos!…’)
Segundo
M. Mignard, algumas vezes, durante as iniciações, eles entoavam alguns
versículos dos Salmos, ou alguma alocução em alusão ao espírito da
fraternidade, como o Salmo 133. E a oração do Espírito Santo;
‘O Espírito de Deus me criou e o sopro do Todo-Poderoso me deu a vida.’
(João 33: 4)
Veni, Creátor Spíritus
[ Ao Espírito Santo]
[ Ao Espírito Santo]
Veni, Créator Spíritus,
[Espírito criador ]
[Espírito criador ]
Mentes tuórum visita,
[Visita a alma dos teus]
[Visita a alma dos teus]
Imple supérna grátia,
[Nos corações que criaste]
[Nos corações que criaste]
Quae tu creásti péctora.
[derrama a graça de Deus]
[derrama a graça de Deus]
Qui díceris Paráclitus,
[Ó fogo quem vem do alto,]
[Ó fogo quem vem do alto,]
Altíssimi donum Dei,
[Teu nome é consolador,]
[Teu nome é consolador,]
Fons vivus, ignis, cáritas,
[Unção espiritual,]
[Unção espiritual,]
Et spiritális únctio.
[perene sopro de amor.]
[perene sopro de amor.]
Tu septifórmis múnere,
[Por Deus Pai tão prometido,]
[Por Deus Pai tão prometido,]
Dígitus patérnae déxterae,
[És dedo da sua mão,]
[És dedo da sua mão,]
Tu rite promíssum Patris,
[Os teus sete dons são fonte]
[Os teus sete dons são fonte]
Sermóne ditanas gútura.
[De toda vida e oração]
[De toda vida e oração]
Accénde lúmen sénsibus.
[Acende o lume das mentes,]
[Acende o lume das mentes,]
Infunde amórem córdibus.
[Infunde em nós teu amor;]
[Infunde em nós teu amor;]
Infirma nostri córporis,
[nossa carne tão frágil,]
[nossa carne tão frágil,]
Virtúte firmans pérpeti.
[sustenta com teu vigor.]
[sustenta com teu vigor.]
Hostem repéllas lóngius,
[Atira longe o inimigo,]
[Atira longe o inimigo,]
Pacémque dones prótinus,
[Conserva em nós tua paz,]
[Conserva em nós tua paz,]
Ductóre sic te praevio,
[A ti queremos por guia,]
[A ti queremos por guia,]
Vitémus omne nóxium.
[noss’alma em ti se compraz]
[noss’alma em ti se compraz]
Per te sciámus da Patrem,
[Ao Pai e ao Filho possamos]
[Ao Pai e ao Filho possamos]
Noscámus atque Fíluim,
[Em tua luz conhecer;]
[Em tua luz conhecer;]
Teque utriúsque Spíritum
[Dos dois tu és o Espírito,]
[Dos dois tu és o Espírito,]
Credámus omni témpore.
[O sol de todo saber.]
[O sol de todo saber.]
Deo Patri glória
[Louvemos ao Pai celeste,]
[Louvemos ao Pai celeste,]
Et Filio qui a mórtuis
[Ao Filho que triunfou,]
[Ao Filho que triunfou,]
Surréxit, ac Paráclito,
[E a quem, de junto ao Pai,]
[E a quem, de junto ao Pai,]
In saeculórum saecula. Amen.
[à santa Igreja enviou. Amém.]
[à santa Igreja enviou. Amém.]
…então
aquele que tornou Irmão o novo cavaleiro levanta-o, beija-lhe a boca
(era costume que o Irmão capelão assim o fizesse, como também era normal
que os reis se cumprimentassem dessa mesma forma) e, convidando-o a
sentar-se diante de si, diz: ‘Caro Irmão, nosso Senhor vos conduziu ao
vosso desejo e vos introduziu em uma fraternidade tão bela como esta
Cavalaria do Templo, pela qual deveis dedicar extrema atenção para
jamais cometer algo que vos faça perdê-la – que assim Deus vos
conserve!’
Finalmente,
depois de enumerar as causas que poderiam acarretar a perda do hábito e
da Casa, depois de ter lido para ele os regulamentos disciplinares,
acrescentava:
‘Já
vos dissemos as coisas que deveis fazer e as coisas das quais deveis
manter-se afastado… E, se por acaso não abordamos tudo o que deveria ser
dito sobre os nossos deveres, vós indagareis. E Deus vos ajudará a
falar e a fazer o bem. Amém!’ (referência ao maior deus egípcio Amon).
(Nesse momento, o Grão-Mestre selava com os lábios o cóquis (cóccix), o
fim ou início da espinha dorsal, que é o equilíbrio do homem, seu eixo
central, um chacra, que são pontos energéticos no corpo humano.)
Pois
bem, aí está, segundo as únicas regras conhecidas, como eram realizadas
as cerimônias de iniciação qualificadas de infames, e nas quais eram
ultrajadas tanto a divindade como a moral; mas nas quais, na realidade, o
maior crime cometido era o de continuarem secretas.
O
mistério com o qual os templários cercavam suas reuniões enchia de
terror a imaginação dos contemporâneos daquela época, e não foge muito
de nossa época também. Em geral, tudo o que os homens não podiam ver ou
compreender adquiria, aos seus olhos, as mais sinistras tonalidades. Em
1789, quando a população sitiou a Bastilha, imaginava-se ser de boa-fé
trabalhar pela libertação de grandes grupos de prisioneiros abandonados
nas celas das prisões. Qual não foi o seu espanto ao ver as vítimas do
despotismo real? Não havia mais do que sete, entre os quais falsários e
dois desequilibrados mentais”.
A
influência templária cresceu rapidamente. Os templários guerrearam
heroicamente nas diversas cruzadas e também chegaram a ser os grandes
financiadores e banqueiros internacionais da época; em conseqüência,
acumularam grandes fortunas. Calcula-se que, antes da metade do século
XIII, eles possuíam nove grandes propriedades rurais apenas na Europa. O
Templo de Paris foi o centro do mercado mundial da moeda, e sua
influência, assim como sua riqueza, era também muito grande na
Inglaterra. No fim do mesmo século, diz-se que haviam alcançado uma
receita cujo montante era equivalente a dois milhões e meio de libras
esterlinas atuais, ou seja, maior que a de qualquer país ou reino
europeu daqueles dias. Acredita-se que, a essa altura, os templários
eram cerca de 15 ou 20 mil cavaleiros e clérigos; porém, ajudando-os,
havia um verdadeiro exército de escudeiros, servos e vassalos. Pode-se
conceber uma influência com base no fato de que alguns membros da Ordem
tinham a obrigação de assistir aos grandes Concílios da Igreja, como o
Concílio de Lateranense, de 1215, e o de Lyons, de 1274.
Os
cavaleiros templários trouxeram para o Ocidente um conjunto de símbolos
e cerimônias pertencentes à tradição maçônica, e possuíam um certo
conhecimento que agora é transmitido somente nos Graus filosóficos e
capitulares da Maçonaria. Desse modo, a Ordem era também um dos
depositários da sabedoria oculta na Europa durante os séculos XII e
XIII, embora os segredos completos fossem dados somente a alguns
membros; portanto, suas cerimônias de admissão eram executadas pelo
Grão-Mestre, ou Mestre que esse designasse, pois eram estritamente
religiosas e em absoluto segredo, como já mencionamos. Por causa desse
segredo, a Ordem sofreu as mais terríveis acusações.
Há
também uma passagem no ritual templário, na qual o pão e o vinho eram
consagrados em capítulo aberto durante uma esplêndida cerimônia:
tratava-se de uma verdadeira eucaristia, um maravilhoso amálgama do
sacramento egípcio com o cristão.
A Eliminação dos Templários
A
supressão dessa poderosa Ordem é uma das maiores máculas na tenebrosa
história da Igreja Católica Romana. Os relatos do processo francês foram
publicados por Michelet, o grande historiador, entre 1851-61, e existe
uma excelente compilação das provas apresentadas, tanto na França como
na Inglaterra, em uma série de artigos que apareceram em 1907 na Ars
Quattuor Coronatorum (XX, 47, 112, 269). Vamos apenas apresentar um
esboço do que aconteceu:
Filipe,
o Belo, então rei da França, necessitava desesperadamente de dinheiro.
Já havia desvalorizado a moeda e aprisionado os banqueiros lombardos e
judeus e, depois de confiscar-lhes suas riquezas, acusando-os falsamente
de usura – algo abominável para a mente medieval –, expulsou-os de seu
reino. Em seguida, resolveu desfazer-se dos templários, depois que eles
haviam lhe emprestado bastante dinheiro e, como o papa Clemente V devia
sua posição às intrigas de Filipe, o assunto não foi difícil de ser
resolvido. Sua tarefa foi facilitada ainda mais pelas acusações
apresentadas pelo ex-cavaleiro Esquin de Floyran, que tinha interesse
pessoal no assunto e pretendeu revelar todo o tipo de coisas malévolas:
blasfêmia, imoralidade, idolatria e adoração ao demônio na forma de um
gato preto.
Essas
acusações foram aceitas por Filipe com deleite. E em uma sexta-feira,
13 de outubro de 1307, todos os templários da França foram aprisionados
sem nenhum aviso prévio por parte do mais infame tribunal que jamais
existiu, um aglomerado de demônios em forma humana, chamado, em grotesca
burla, de Santo Ofício da Inquisição que, nesses dias, tinha plena
jurisdição naquele e em outros países da Europa. Os templários foram
horrivelmente torturados, de modo que alguns morreram e os outros
assinaram toda a classe de confissões que a Santa Igreja desejava. Os
interrogatórios se relacionavam principalmente à suposta negação de
Cristo e ao fato de terem cuspido na cruz e, em menor grau, com graves
acusações de imoralidade. Um estudo das evidências revela a absoluta
inocência dos templários e a engenhosidade diabólica mostrada pelos
oficiais do Santo Ofício, encarregados da prisão dos acusados pela
Inquisição, que os mantinha incomunicáveis, carentes de defesa adequada e
de consulta pertinente, ao mesmo tempo em que faziam circular a versão
de que o Grão-Mestre havia confessado diante do papa a existência de
crueldades na Ordem. Os Irmãos foram convencidos por meio de adulações e
promessas, subornados e torturados, até confessarem faltas que jamais
haviam cometido, e tratados com a mais diabólica crueldade.
Assim
era a “justiça” daqueles que usavam o nome do Senhor do Amor durante a
Idade Média; assim era a compaixão exibida em relação a seus fiéis
servidores, cuja única falta foi a riqueza, obtida legalmente para a
Ordem e não para si mesmos. Filipe, o Belo, obteve dinheiro. Mas, que
carma, mesmo com 20 mil vidas de sofrimento, poderá ser suficiente para
um ingrato vil? A Igreja romana, sem dúvida, tem sua participação. E
pergunto: como cancelar uma maldade tão incrível quanto essa?
O
papa desejava destruir a Ordem e reuniu o concílio em Viena, em 1311,
com tal objetivo, mas os bispos recusaram-se a condená-la sem primeiro
escutá-la. Então, o papa aboliu a Ordem em um consistório privado
efetuado em 22 de novembro de 1312, apesar de ter aceitado o fato de que
as acusações não haviam sido comprovadas. As riquezas do Templo deviam
ser transferidas à Ordem de São João; porém, o certo é que a parcela
francesa foi desviada para os cofres do rei Filipe.
O
último e mais brutal ato dessa desumana tragédia ocorreu em 14 de março
de 1314, quando o Venerável Jacques de Molay, Grão-Mestre da Ordem
Templária, e Gaufrid de Charney, Grande Preceptor da Normandia, foram
queimados publicamente como hereges reincidentes, em frente à grande
Catedral de Notre Dame. Quando as chamas os rodearam, o Grão-Mestre
incitou o rei e o papa a que, antes de um ano, se reunissem a ele diante
do trono de julgamentos de Deus e, de fato, tanto o papa como o rei
morreram dentro do prazo de 12 meses.
Temos
notícias que alguns cavaleiros templários franceses se refugiaram entre
seus Irmãos do Templo da Escócia e, naquele país, suas tradições
chegaram a fundir-se, em certa medida, com os antigos ritos celtas de
Heredom, formando, assim, uma das fontes das quais mais tarde brotaria o
Rito Escocês Antigo e Aceito.
Há
muito pouco tempo, a escritora Barbara Frale encontrou na biblioteca do
Vaticano um documento denominado “Chinon”. Trata-se de uma carta na
qual o papa Clemente V perdoa o Grão-Mestre Jacques de Molay. Você
poderá saber disso com mais detalhes na obra de Barbara Frale: Os
Templários – E o Pergaminho de Chinon encontrado nos arquivos secretos
do Vaticano, da Madras Editora.
RuyR@mires.'.
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