Estamos
fazendo coisas demais, e tudo sempre com demasiada pressa. Queremos
fazer cada vez mais coisas no menor tempo possível para aumentar a
“produtividade”. Por outro lado, vivenciamos cada vez menos os momentos.
Na preocupação de ganhar o sustento de cada dia, passamos muito tempo
envoltos em problemas, seja de relacionamentos, seja familiares ou mesmo
profissionais, e não curtimos os instantes de vida e tudo que eles
podem oferecer.
Especialmente
em ambientes competitivos muito se fala em vencedores e perdedores,
descrevendo a vida como uma competição em que você deve ser forte,
triunfar sobre ela. Esta metáfora frequentemente termina por influir
negativamente em jovens que são obrigados a carregarem consigo grandes
responsabilidades antes mesmos de adquirirem maturidade suficiente para
isso. Mas desde quando alguém tem capacidade para definir quem é um
verdadeiro vencedor ou perdedor? Em que momento a derrota se torna
também uma vitória? Em uma jornada, independente de qual seja esta,
esquivando-se dos obstáculos temos um caminho. Muitos se enganam em
pensar que o importante é somente a chegada deste caminho, sendo
necessário fazer de tudo para chegar lá, quando o mais importante é na
realidade a experiência que se desenvolve na própria viagem.
O
que é a moral e os bons costumes? O que é certo e errado? O que é
verdade? Perguntas que assolam aqueles que vivenciam uma jornada, e que
quanto mais a vivenciamos, mais difíceis se tornam de se responder.
Estamos vivos, sem motivos, e ainda assim estamos buscando sempre
palavras escondidas em livros sagrados para inventarmos razões para
isso. Os que vivem na modernidade são educados a se sentirem a vontade
dentro de falsas certezas e infelizes quando de frente às incertezas. O
indivíduo emancipado, nesse contexto, é aquele que consegue aceitar sua
própria contingência. Como diz aquela música, a dúvida é o preço da
pureza e por isso é inútil ter certeza. Assim somos: confusos e
irracionais. E assim seguimos de corações partidos, amores não
correspondidos.
Criticamos
o “sistema” como se as causas de todos nossos problemas viessem de
fora. Mas como criticar o sistema quando usamos smartphones, notebooks,
t-shirts? Acessamos a world wide web e fazemos downloads. Criticamos o
sistema de dentro dele, fingindo não fazer parte do mesmo quando na
verdade estamos reproduzindo-o constantemente, e reclamando de como a
vida é injusta dentro de nossas bolhas. Talvez seja aceitável esse
comportamento quando somos adolescentes ingênuos, mas depois se deve
crescer e perceber que a situação é muito mais complexa do que “eles x
nós”.
Isso
não significa que se deva render ao famigerado “sistema”. É justo o
desejo de conquistar uma vida razoavelmente confortável para nós mesmos,
assim como o de sustentar a família, e por isso precisamos estar dentro
do sistema para podermos sobreviver. Mas não é porque estamos no meio
da multidão que devemos ser apenas mais um número na multidão. Ainda
dentro dele podemos fazer alguma diferença com pequenas atitudes que
podem ter grandes consequências. E digo atitudes de verdade, e não
simplesmente clicar em botões de compartilhamento nas redes sociais. O
mundo precisa mesmo ser mudado, pois a situação não vai nada bem. Mas
antes de tentar mudá-lo de acordo com nossas ideias é preciso olhar para
nós mesmos e ver se nós também não fazemos parte dessa lista de coisas a
serem mudadas no mundo.
Algumas
vezes é bom também nos distanciarmos um pouco e curtir alguns momentos
da vida livre dessa lógica selvagem. Por isso viaje, faça psicoterapia,
invente algo novo sempre que estiver entediado. Dentro do possível,
tente vivenciar mais as coisas ao invés de simplesmente deixá-las passar
no automático sem perceber o que está acontecendo.
No início do filme Annie Hall, Woody Allen apresenta
uma interessante história em seu monólogo: Duas senhoras de idade estão
em um hotel nas montanhas quando uma diz “A comida daqui é terrível”, e
a outra responde “Sim, e, além disso, as porções são tão pequenas”.
Assim é a vida: cheia de solidão, miséria, sofrimento, tristeza, e ainda
por cima acaba muito rápido.
Fraterno Abraço
RuyR@mires.'.
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