sábado, 10 de setembro de 2011

A LOJA MAÇÔNICA 'PROPAGANDA DUE' P2 - (2ª Parte)













A LOJA MAÇÔNICA “PROPAGANDA DUE” (P2)
(2ª Parte)

Magistrados italianos, examinando cuidadosamente documentos apreendidos na Villa Wanda (nome de sua mulher), de onde Gelli tinha fugido quando a P2 explodiu, encontraram centenas de documentos altamente secretos dos serviços de inteligência. O Coronel Antonio Viezzer, ex-chefe dos serviços secretos de inteligência combinados, foi identificado como a fonte primária desse material, tendo sido preso em Roma por espionar em nome de uma potência estrangeira.
         
Ainda nessa época, Gelli reuniu-se secretamente com o General Alexander Haig, ex-Comandante Supremo da OTAN e, no momento, Chefe do Gabinete Civil do Presidente Nixon. O encontro foi na própria Embaixada dos EEUU em Roma. Com as bênçãos de Henry Kissinger, então Assessor do Conselho de Segurança Nacional, Gelli saiu do encontro com a promessa de contínuo suporte financeiro para a Operação Gládio e para sua loja maçônica além de um plano para a subversão interna da política italiana.
          
Reuniu-se, a seguir, com outro membro da P2 – Roberto Calvi, Presidente do Banco Ambrosiano de Milão (la banca dei preti), o segundo maior banco privado da Itália e um dos maiores acionistas do Banco do Vaticano – para dar seqüência ao plano. Calvi, neste ínterim, já tinha começado a bombear dinheiro ilegalmente do seu banco, usando o Banco do Vaticano – o Istituto per le Opere di Religione (IOR) para a lavagem. Gelli tinha Calvi em suas mãos. 
Convém salientar que, no início de 1967, um ex-chefe do Serviço Secreto Italiano tinha se filiado à loja P2, trazendo consigo mais de 150.000 fichas de pessoas-chave na sociedade italiana. Seja por chantagem ou ideologia, Calvi continuou drenando vastos fundos para Gelli e a P2 até a falência final do banco. Em 1978, outro fato político chocou a sociedade italiana e o mundo: o seqüestro e posterior assassinato do ex-Primeiro Ministro Italiano – Aldo Moro – pelas Brigadas Vermelhas, um grupo revolucionário de tendências pró-soviéticas. Evidências posteriores demonstraram que o assassinato de Moro foi orquestrado pela P2 e que as Brigadas Vermelhas e Negras estavam infiltradas pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos.
         
Alguns meses após o assassinato de Moro, o mundo assistiu à eleição de Albino Cardeal Luciani para o papado com o nome de João Paulo I. Irradiando simpatia e honestidade, a eleição de Luciani causou um certa angústia em alguns setores da cúria, especialmente nas áreas próximas ao bispo Paul Marcinkus, um bispo de Chicago que dirigia o Banco do Vaticano e que sabia ter seus dias contados, pois estava demasiadamente envolvido em fraudes financeiras, especialmente com Roberto Calvi. Alguns, ainda, têm dúvidas de como o IOR-Banco do Vaticano se envolveu numa tão má circunstância. Um pouco de história poderá esclarecer alguns pontos. Em 1929, o Vaticano e Mussolini assinaram o Tratado Lateranense, conhecido como a Concordata do Vaticano, que funcionou até 1984, quando a religião católica não foi mais reconhecida como a religião oficial do Estado Italiano. Como resultado, a cidade do Vaticano tornou-se um estado soberano dentro da cidade de Roma e independente do governo italiano, tendo a Igreja recebido um aporte financeiro de milhões de liras vindas do Duce. Como compensação, esperava-se uma certa benevolência do Vaticano em relação ao fascismo ascendente. A Igreja, desejando bem investir seus recursos para o pagamento de seus débitos e de suas obras de caridade, criou, primeiramente o APSA e depois o IOR. O IOR tornou-se um paraíso para os ricos italianos que desejavam espoliar o fisco em clara violação às leis bancárias italianas, prevenindo que seu dinheiro não caísse em mãos dos alemães. Contudo, a elite vaticana não estava contente em somente trabalhar com os bancos católicos do país (assim chamados porque emprestavam dinheiro a baixas taxas de juros, visando não violar a lei da usura da Igreja). Necessitavam de financistas leigos para encontrar investimentos seguros e lucrativos para a Igreja. Daí surgem homens do naipe de Michele Sindona e Roberto Calvi. O império italiano de Sindona começou a colapsar em 1974 e o de seu protegido – Calvi – começou em 1978 e culminou com a quebra do Ambrosiano em agosto de 1982. Salienta-se ainda, que, antes do seu indiciamento por morte do investigador italiano Giorgio Ambrosoli, liquidante de seu Banca Privata Italiana, Michele Sindona era, não só o financista da P2 como o conselheiro de investimentos do IOR, ajudando o Banco a vender os seus ativos italianos e reinvesti-los nos EEUU. Em 1980, Sindona foi preso em Nova Iorque e condenado nos EEUU por 65 casos de acusações de fraude e pela falência fraudulenta de seu banco norte-americano – Franklin National Bank - sendo extraditado para a Itália em 1984, onde dois anos depois – março de 86 - foi envenenado em sua cela enquanto cumpria uma sentença por assassinato. Calvi foi condenado em 1981 sob acusação de transação com moeda ilegal.
         
O Papa Luciani não era bem visto pela extrema-direita italiana, pois esta o considerava indulgente em relação ao comunismo e por seu pai ter pertencido aos quadros do Partido Socialista Italiano. Com 33 dias de pontificado no ano de 1978, João Paulo I, o Papa “Sorriso”, como era popularmente conhecido, foi encontrado morto nos seus aposentos. A súbita morte do Papa deixou um rastro de interpretações e “especulações” que duram até os dias atuais.

Ruy Luiz Ramires.'.

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