sábado, 10 de setembro de 2011

A LOJA MAÇÔNICA 'PROPAGANDA DUE' P2 - (3ª Parte)














A LOJA MAÇÔNICA “PROPAGANDA DUE” (P2)
(3ª Parte)

Com a morte de Luciani, foi eleito papa o polonês Karol Wojtyla, um papa bem mais conservador, pois fora testado na luta anti-soviética contra o governo polonês. Marcinkus obteve, temporariamente, uma sobrevida, pois o novo papa necessitava urgentemente de providenciar recursos para o sindicato dos estaleiros navais poloneses, um trabalho que viria culminar no Movimento Solidariedade, que determinou o fim do comunismo na Polônia, a queda do Muro de Berlim e, por que não dizer, a derrocada do Império do Mal. A título de curiosidade, a CIA passou a ter uma vigilância eletrônica maior sobre o Vaticano quando detectou um telefonema, em 5 de julho de 1979, de Walesa (líder sindical e futuro presidente da Polônia) perguntando se João Paulo II aprovaria o nome Solidariedade para o movimento político de união sindical que viria a ser implantado. Walesa explicou que a palavra tinha sido tirada da encíclica pontifícia Redemptor Homis – um documento devotado à redenção e à dignidade da raça humana. 
         
A luta do Solidariedade contra o governo títere da Polônia serviu para dar uma nova força ao trio Marcinkus-IOR, Calvi-Banco Ambrosiano e, obviamente, Gelli-P2. A P2 providenciava os meios para reforçar as instituições anticomunistas na Europa e na Ibero-América com fundos do IOR e da CIA. Calvi, que foi encontrado enforcado – alegou-se suicídio - sobre a Ponte Blackfriars (Frades Negros) em Londres em 17 de junho de 1982, gabava-se de ter-se encarregado pessoalmente da transferência de 20 milhões de dólares do IOR para o Solidariedade, embora a soma total drenada para a Polônia tenha sido de mais de 100 milhões de dólares. Durante a saga lendária de Calvi, devem ser citados os seguintes acontecimentos: i) em 1992, o desertor da máfia Francesco Mannino Mannoia disse que Calvi foi estrangulado por Francesco di Carlo, o responsável pelo tráfico de heroína em Londres. A ordem de morte teria partido de Pippo Calo, tesoureiro da máfia e embaixador em Roma. Desesperado por tapar os rombos do seu banco, Calvi teria concordado em lavar grande quantidade de dinheiro da máfia e que, com o passar do tempo, ele teria desviado parte do dinheiro da máfia para manter o banco funcionando; ii) preocupado com a descoberta pela máfia de seus desvios de dinheiro, Calvi teria viajado para Londres para tentar um empréstimo com o tesoureiro da Opus Dei. Se a operação fosse realizada, Calvi pagaria à máfia e salvaria o banco da investigação do Banco Central italiano. Por alguma razão – maquiavelismo da Opus Dei ou beijo mafioso – o empréstimo não se realizou e Calvi enforcou-se ou foi forçado a isso. Após a morte de Calvi, o Vaticano nomeou uma comissão de “Quatro Notáveis” sendo um deles, Herman Abs, ex-presidente do Deutsche Bank.
         
Com a fuga de Gelli para o seu exílio na Suíça e a morte de Calvi, assistiu-se à derrocada formal da P2. Apesar da dissolução da P2 em 1981 e da expulsão de Gelli pelo Grande Oriente da Itália, o espírito da P2 não feneceu. A prisão, no aeroporto de Fiumicino da Signora Maria Gelli, sua filha, com uma mala cheia de documentos, bem diferentes dos de Villa Wanda, de pessoas envolvidas em espionagem fosse na KGB, fosse no MI6 e outros quejandos podia ter sido uma mensagem de Gelli para um bom entendedor. O saldo entre os principais atores e algumas instituições apresenta-se o seguinte: o octagenário Gelli, depois de fugas rocambolescas, pois esteve no Uruguai, Sérvia, Belgrado, Suíça, Marselha, Aix-en-Provence, acabou, finalmente, preso e extraditado em Cannes em 1998, em uma de suas mansões de alto luxo na Costa Azul da Riviera francesa, é condenado a doze anos de prisão por estar envolvido na bancarrota do Ambrosiano; Calvi e Sindona, mortos; Paul Marcinkus é exilado para uma paróquia perdida nos confins dos Estados Unidos; o GOI não quer mais falar nesse assunto tabu; a maçonaria anglo-saxônica desconhece solenemente a questão (não existe um único artigo sobre o assunto no Ars Quatuor Coronatorum, somente referências esparsas); o Vaticano, por ser um Estado soberano não permite nenhuma investigação dos procuradores italianos sobre o assunto.

Os recursos humanos estratégicos da P2, contudo, ainda atuam na política italiana, pois em junho de 1994, o abastado homem de negócios do norte da Itália – Silvio Berlusconi foi nomeado primeiro-ministro. O piduisti (pedoisista) Berlusconi tentou passar um decreto-lei cujo texto rezava que os delitos de corrupção e de concussão são considerados ‘menos graves’ e, em conseqüência, a detenção preventiva é suprimida. Será que a lição da P2 foi aprendida?


Ruy Luiz Ramires.'.

BIBLIOGRAFIA

-BENIMELI, José A. Ferrer e MOLA, Aldo A. (eds), La Massoneria Oggi, Editrice Italiana, Foggia, Itália, 1992.
(Tem um artigo de Licio Gelli intitulado Maçonaria e Poder.
Neste artigo Gelli se defende e se apresenta como uma vítima de uma perseguição geral da maçonaria).
-CONTE, Charles e RAGACHE, Jean-Robert, Comment peut-on être Franc-maçon?, Revue Panoramiques, Éditions Corlet-Arlés, Paris, 1995.
-DAVID A. Yallop, In God's Name:
An Investigation Into the Murder of Pope John Paul I
,
Ed.
Bantam, New York, 1984.
-GREELEY, Andrew M., Como se faz um Papa, ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1980.
HENDERSON, Kent, Italian Freemasonry and the P2 Incident, The Transactions of the Lodge of Research Nº 218, Victoria, Australia, 1987, pp. 25-33.
-INTERNET (diversos), inclusive com uma página que mostra a veia poética de Licio Gelli.
http://www.club.it/autori/licio.gelli/licio.gelli.poesie.html
-KNIGHT, Stephen, The Brotherhood:
The Secret World of the Freemasons
, Stein and Day, New York, 1984.
-MARTIN, Malachi, Os Jesuítas – A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1989.

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