sábado, 26 de maio de 2012

REGIME ESCOCÊS RETIFICADO














A história das Organizações e dos Ritos Maçônicos é frequentemente de difícil esclarecimento, pois apesar das datas serem importantes, os acontecimentos e fatos não são estanques a uma data, eis que são gestados lentamente e só ligamos o fato a uma data quando o ápice daquele acontece. Isto não foi diferente no RER.
O sistema maçônico e cavalheiresco cristão denominado 'Regime Escocês Retificado' foi constituído na França no século XVIII.
É um Rito Cristão, mas frise-se, sem nenhum caráter confessional do termo, mas sim, calcado no seu conteúdo esotérico e filosófico. É aparentado com os gnosticismos judaico, cristão e helenístico, ou seja, uma gnose maldita pela ortodoxia que degenerou aqueles.

Este Rito, à semelhança de outros Ritos da Maçonaria Especulativa surgida no Reino Unido, mantém uma grande parte do tronco inicial, essencialmente dentro das Lojas Azuis ou dos três primeiros graus.
Muitos influíram na criação do RER, como Von Hundt, Charles de Hesse, Ferdinand de Brunswick, Jean de Turkheim, Saint-Martin*, Mesmer, Martinets de Pasquallys*, etc. Mas foi sem dúvida o gênio de Jean-Baptiste Willermoz* quem estruturou e conduziu tudo até o seu final. Ainda que tenha suas raízes fincadas em data anterior a 1767, ou mais exatamente em 1756 consoante alguns historiadores, o RER foi gestado nesta data, consolidou-se em 1778 no Convento de Lyon, e foi reafirmado no Convento de Wilhemsbad em 1782, permanecendo puro até o presente momento, embora Willermoz continuasse a trabalhar nos diversos rituais até 1802.
É preciso assinalar que a noção do Regime tem a ver com a organização estrutural do sistema e a do Rito com a prática ritual propriamente dita. As duas expressões: Regime Escocês Retificado e Rito Escocês Retificado não são pois intercambiáveis nem significam o mesmo, ainda que o uso diário as confunda facilmente, possivelmente por causa de suas siglas comuns: R.E.R. A noção de regime nos remete à época em que não havia a separação dos três primeiros graus geridos por uma Potência Simbólica. Hoje isso é inconcebível no mundo todo e, aqueles que insistem nisso são postos na irregularidade, como por exemplo o Grand Prieuré de Gaules.
Ressalte-se por oportuno, que o termo Retificado do RER não significa que este tenha “retificado” ou “corrigido” o REAA, belíssimo e largamente praticado no Brasil e Europa. Jamais pretendeu e não pretende isso. O termo “Retificado” tem outra conotação. Tem origem na Estrita Observância Templária e nas Lojas Escocesas que foram retificadas em Dresde na Alemanha. Alguns historiadores afirmam que em 1742, foi fundada em Paris uma Loja que praticava o R.E.R., e tinha raízes na Estrita Observância, mas isso carece de maiores comprovações.
Em face de uma dispersiva disparidade de Ritos e Sistemas Maçônicos existentes na Europa, e à preponderância que a Estrita Observância Templária alemã começava a ter no mundo maçônico, intrigado, fascinado e depois um pouco céptico pelo sistema maçônico dos “Eleitos Cohen” de Martinez de Pasqually, Jean-Baptiste Willermoz parte para a criação de um Rito que amalgama essas três tendências: 1) A Maçonaria existente em França na sua vertente mais significativa- Escossismo; 2) As doutrinas dos Elus Cohens do Sistema de Martinetz de Pasquallys; 3) O Sistema da Estrita Observância Templária do Barão Von Hundt também apelidada de Maçonaria Retificada (Reforma de Dresde), sistema alemão em que a vertente cavalheiresca se sobrepunha à maçônica já que se reclamava de não só herdeira mas restauradora da Ordem do Templo extinta em 1312. A Estrita Observância foi criada em 1764 no Capítulo de Clermont, e introduzida na Suíça em 1772 por André Buxtorf na Basiléia, e por Diethelm Lavater em Zurich.Nesta época a parte francesa da Suíça fazia parte do Diretório da Borgonha – Estrasburgo. À guisa de curiosidade vale observar que em 1844 o Diretório Escocês Retificado de Zurich participou da criação da Grande Loja Suíça Alpina.
Mas voltando à nossa linha de raciocínio, vemos que Willermoz, muito inteligentemente, retira da S.T.O. as suas pretensões Templárias, no sentido de restauração político material e temporal da Ordem do Templo e reclama-se de uma herança espiritual apenas. Mantém o conteúdo esotérico do sistema de Pasquallys mas avança para um ecumenismo não impregnado da teosofia martinezista (não Martinista, frise-se) mas introduzindo as teses de Martinetz de Pasquallys sobre a origem primeira do Homem e a sua condição atual e destino final no Universo. Willermoz pretendia através da Maçonaria, a adaptação dos ensinamentos secretos recebidos de Pasquallys e o aperfeiçoamento do sistema maçônico, com base na doutrina e no sistema oriundo da Ordem dos Elus Cohens* e dos demais sistemas existentes. Em dado momento Willermoz teve a ajuda de Saint-Martin, que em setembro de 1772 foi seu hóspede em Lyon.
Enquanto em geral o R.E.R tem 3 graus simbólicos e 3 graus filosóficos , outros Ritos têm um número muito maior de graus filosóficos, além dos três simbólicos, mas isso não significa menor volume de conhecimento ou menor instrução ou evolução a ser recebida ou percorrida através dos diferentes graus, valendo a observação de que vemos algumas semelhanças e ensinamentos de altos graus de outros Ritos ou Ordens, permeados nos ensinamentos Retificados. Em Loja Simbólica os obreiros, além de avental e luvas, usam,todos, uma espada e um chapéu triangular embora só a partir do grau de mestre se possam cobrir.

*LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN, o "Filósofo Desconhecido", nasceu a 18 de janeiro de 1743 em Amboise, Tourraine, França. Foi um eminente pensador e ocultista francês, considerado um grande iniciado, discípulo de Martinez de Pasqually e Jacob Boehme (de forma póstuma, através de seus escritos). Advogado, deixou de lado a jurisprudência e ao lado de Jean Baptiste Willermoz, lançou a base do Martinismo. Influenciou diversos outros ocultistas franceses, especialmente Eliphas Levi, Stanislas de Guaita e Papus.
* MARTINEZ DE PASQUALLY - O nome completo era Jacques de Livron Joachin de la Tour de la Casa Martinez de Pasqually. Nasceu em Grenoble, França, em 1727. Seu pai tinha uma patente maçônica emitida por Charles Stuart, Rei da Escócia, Irlanda e Inglaterra, fechada em 20 de maio de 1738, outorgando-lhe o cargo de Grande Mestre Delegado, com autoridade para levantar templos para a glória do Grande Arquiteto do Universo, e para transmitir a referida Carta Patente a seu filho maior. A patente e os poderes foram transmitidos depois de sua morte a seu filho que tinha 28 anos.
Martinez foi um grande homem que tentou durante toda a sua vida, infundir a espiritualidade à Maçonaria.

A doutrina de Martinez se expõe em um único livro que escreveu: Tratado da Reintegração dos Seres. É um comentário sobre o Pentateuco. Ele fundou uma ordem não estritamente maçônica, senão composta exclusivamente por maçons: "Ordem Martinista dos Elus Cohens / Ordem dos Cavaleiros Maçons, Sacerdotes Eleitos do Universo". Esta Ordem complementava os tradicionais três graus maçônicos, Aprendiz, Companheiro e Mestre, com um sistema de Altos Graus.

Em 1774, Martinez fundou, em Montpellier, França, um Capítulo Maçônico "Os Juizes Escoceses". Entre 1755 e 1760, Martinez viajou pela França, recrutando membros para sua organização. Em 1760, fundou em Foix, França, o Capítulo "O Templo Cohen". Em 1761, fundou em Bordeaux, França, a Loja "A Perfeição Elus Escocesa". Os membros fundadores foram o Conde D'Alzac, o Marques de Lescourt, os irmãos D'Auberton, de Oasen, de Bobié, Jules Tafar, Morris e Lecembard.

Em 26 de maio de 1763, Martinez enviou sua Patente de Stuart à Grande Loja da França, informando-lhes que havia fundado em Bordeaux, um Templo de cinco graus de perfeição, dos quais Martinez era o fiador, sob os termos da patente do Rei Stuart da Escócia, Irlanda e Inglaterra, grande Mestre de todas as Lojas espalhadas sobre a face da Terra". O nome da Loja foi trocado para "A Francesa Elus Escocesa". Em 1° de março de 1765 a Grande Loja da França a aprovou e registrou esta Loja.

Em 1765, Martinez viajou a Paris, de onde organizou sua futura Loja parisiense. Em 21 de março de 1757, fundou o "Tribunal soberano dos Elus Cohen", com Bacon de la Chevaliere, como seu delegado. Desde 1770 o Rito dos Elus Cohen tinha templos em numerosas cidades: Bordeaux, Montpellier, Avignon, Foix, La Rochelle, Verssailles, Paris e Metz. Um templo se abriu em Lyon, e graças ao entusiasmo do discípulo Jean Baptiste Willermoz, esta cidade se converteu em um centro espiritual desta Ordem por muitos anos. Em 20 de setembro de 1774, Martinez faleceu em Port aux Prince, Haiti.


*JEAN BAPTISTE WILLERMOZ - Era o mais velho de 12 irmãos .Era irmão de Pierre Jacques Willermoz um médico e químico que participou da redação do Dictionnaire universel d’agriculture e l'Encyclopédie de Diderot et D'Alembert.
Trabalhava no comércio de seda e prata. Foi iniciado na maçonaria aos 20 anos e se tornou Venerável Mestre aos 22.Um ano depois fundou a Loja Maçonica Perfeita Amizade e foi eleito Mestre em 24 junho do mesmo ano.
Como um místico apaixonado pela natureza secreta da iniciação ele contribui para a criação da Grande Loja dos Mestres Regulares de Lyon e tornou-se Grão Mestre em 1762.
A Grande Loja praticava sete altos graus maçonicos. Com o tempo ele acrescentou o oitavo grau denominado "Grão-Mestre Escocês, Cavaleiros da Espada e da Rosa Cruz".
Em 1763 fundou, juntamente com seu irmão Pierre Jacques, o “Soberano Capítulo dos Cavaleiros da Águia Negra Rosa+Cruz”, que foi dedicado à pesquisa alquímica .
Willermoz foi admitido a primeira classe da Ordem dos Cohens Eleus em Versalhes em 1767 sobre a recomendação de Bacon de Chivalerie e o Marquês de Lusignan sendo iniciado por Martinez de Pasqually. Após a morte de Pasqually em setembro de 1774, incentivou seu amigo e irmão Choen Louis-Claude de Saint-Martin a escrever uma revisão abrangente da doutrina do Choens sob a forma de lições, chamado de Lições de Lyon , para ser realizada de 07 de janeiro de 1774 a 23 de outubro de 1776.
Em 1770, ele entra em contato com o Barão von Hund e a Ordem Alemã da Estrita Observância Templária (EOT), e ingressa com o nome cavaleirístico de “Eques ab Eremo e Chanceler” do Capítulo de Lyons.
Foi sob sua liderança que a assembléia de Gália foi realizada no 1778 em Lyon.Na assembléia foram reconhecidos os graus de Professo e Grande Professo dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (CBCS).
Em 1782, Willermoz escreveu que existem três tipos de maçons alquímicos:
  • Aqueles que pensam que a finalidade da Maçonaria é fazer a Pedra Filosofal.
  • Aqueles que buscam a panacéia.
  • Aqueles que buscam a ciência da Grande Obra pela qual o homem poderia encontrar a sabedoria e práticas do cristianismo primitivo (do qual ele próprio tomou parte).
Devido às divergências no seio da EOT, Willermoz organizava em julho de 1782, a assembéia de Wilhelmsbad onde 33 delegados participaram da criação do Rito Escocês Retificado .Ele defendeu o lugar da corrente martinista no rito por meio da delegacia de Joseph de Maistre que enviou o seu famoso Memorando ao Duque de Brunswick, que não foi apoiada por outros delegados.
Muito reservado para Cagliostro, ele pensou que, depois de várias conversas que ele não promoveria um cristianismo "ortodoxo". Por conseguinte, instou os membros dos Cavaleiros Benfeitores a não dar qualquer crédito para ele nem para a criação da primeira fundação mãe do rito egípcio, cujo nome era A Sabedoria Triunfante no ano de 1785 em Paris.
Preocupado com o eventual surto da Revolução, ele se escondeu em Ain, em uma casa pertencente ao seu irmão Pierre-Jacques, levando com ele os seus vastos arquivos maçônicos.
Mais tarde, foi nomeado Diretor Geral do Departamento do Rhone pelo Primeiro Cônsul em 01 de junho de 1800, uma função que ocupou por 15 anos.Retomou a sua atividade maçônica com o ressurgimento do CBCS em 1804 e dedicou-se a ela até sua morte aos 94 anos em 29 de maio de 1824.

*ORDEM MARTINISTA DOS ELUS COHENS - Originalmente fundado por Martinez de Pasqually em 1768. Foi fundido com alguns ritos Maçons pelo discípulo dele e sucessor Jean Baptiste Willermoz. O Dr. Blitz de Eduoard, um companheiro antigo de Papus, trabalhou com os Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa de Willermoz, nos E.U.A., e consequentemente mantinha a exigência de afiliação maçônica. Depois da Segunda Guerra Mundial, Robert Ambelain (Sar Aurifer), era seu Grande Mestre e mantinha rituais Elus Cohen que ele tinha obtido de várias fontes , reavivou a Ordem Martiniste des Elus Cohens que praticava justamente esta forma operativa de teurgia. Ambelain também preservou somente esta Ordem aos Homens.
Os Elus-Cohen tinham em seu Mestre, Martinez de Pasqually, o grande agente responsável pela sua comunicação com o invisível. Segundo os historiadores, eles se reuniam para invocar La Chose ou A Coisa (em tradução literal). Muitos acreditam até hoje que La Chose era uma inteligência planetária, outros dizem que era um ser espiritual chamado Metraton Sarphanim.
Diferentemente do que aconteceu com Aiwass, que se serviu do corpo de um ser humano para revelar sua mensagem, La Chose quando se manifestava, não precisava de um corpo para sua manifestação; ela materializava-se. Ora, mas para isso precisava de vários elementos Mágicos para facilitar sua materialização e dado o poder destas sessões, muitos discípulos de Pasqually cobriam os olhos temendo o fenômeno.
Os elementos Mágicos para a manifestação de La Chose eram desde Armas Mágicas até orações antiqüíssimas, descobertas por Pasqually nos países antigos (não iremos citar onde para não causar melindres nos “novos Cohen”).
Recentemente, apareceram vários escritos do Mestre Robert Ambelain sobre os Elus-Cohen, na forma de livros publicados na França, onde são descritos alguns rituais da Ordem. A verdade é que as fórmulas autênticas usadas pelo Mestre Martinez de Pasqually jamais serão divulgadas em livros, isso seria incoerente, dado o nível de preparo que estas práticas exigiam de seus discípulos, o que causou na época certo desconforto ao Mestre, pois muitos discípulos se viam incapacitados de fazê-las.


 


Fraterno Abraço
RuyR@mires.'.

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