Está registrado que em uma das primeiras apresentações de Beethoven, alguns aristocratas europeus disseram dele: “Pobre demais para ser respeitado, excêntrico demais para ser amado e grande demais para ser ignorado”.
Como esse homem, “pobre demais
para ser respeitado, excêntrico demais para ser amado e grande demais para ser
ignorado” poderia sobreviver à sua época? O século 19? A não ser absorvendo a
sua realidade e adotando o conceito desta frase, que ele tinha como verdade e
lema para si mesmo: “Não tenho amigos, por isto devo viver só, mas sei do
fundo do meu coração, que Deus está mais próximo de mim do que dos outros.
Aproximo-me dele sem medo, porque sempre o conheci...”
Pretensão de Beethoven?
Absolutamente! Esta é a declaração de um ser muito evoluído, de alguém que, de
uma forma ou de outra “conhecia” Deus. Era um gênio da música e um místico
natural que conseguiu estreitar seu conhecimento, sua obra e sua vida com as
verdades milenares, com a Fonte Única.
“Pobre
demais para ser respeitado...”
Beethoven era também um Iniciado.
Tanto, que suas sinfonias foram estruturadas segundo princípios da Antiga
Tradição.
A surdez chegaria como a ruína de
sua vida, não fosse o fato de Beethoven, certamente, intuir que aquele drama
era uma das grandes provações do seu Caminho Iniciático. E assim, ele a
considerou como um portal para sua entrada nas profundezas de si mesmo, do seu
encontro com a voz do silêncio e a música das esferas. A fineza de algumas de
suas obras ou o vigor de outras evidenciam isso.
Antes disto Beethoven tentou ser
feliz à maneira comum. Tentou, não conseguiu! Amou mais de uma vez. Amou, nunca
foi amado! Mesmo assim, dedicou algumas de suas obras a Bettina Brentano,
Josephine Therese Von Brunswick, Julie Guiccardi.
Depois de partir da vida terrena
foi descoberta uma carta que Beethoven escreveu declarando seu amor para uma
mulher da qual não mencionou o nome. Terminou sua redação, deixou externar
aquele amor contido e decidiu que dali em diante não mais buscaria amar e ser
amado. O Beethoven homem, o Beethoven humano, cansou de procurar o amor humano
e dirigiu-se ao amor divino contido na música que só ele ouvia e na música que
só ele sabia compor.
Se a surdez é uma tragédia para
qualquer ser humano, imaginemos para um Beethoven, que não era um ser humano
comum. Contudo, apesar das vitórias iniciais da doença, ele a venceu usando a
própria arma da surdez: o silêncio. O gênio da música primeiro penetrou em seus
mais profundos segredos. Depois o transformou em escudo, e depois em
instrumento para “dialogar” com as altas esferas do Espírito. Ouvindo e sendo
ouvido. E trazendo para a “vida comum” alguns trechos da música divina.
“Excêntrico
demais para ser amado...”
A obra de Beethoven é vasta e
compõe-se de Concertos para Piano, Sonatas para Violinos, Quartetos para
Cordas, Danças, Canções, Ópera, além das suas Nove Sinfonias. Há o registro de
183 magníficos trabalhos por ele compostos, considerados uma referência sem
precedentes na música mundial. A ponto de se considerar o seguinte: o clássico tem
início em Haydn e Mozart e o romantismo em Beethoven.
Mundo afora se sabe o que
significa aquele “tan, tan, tan, tan...”, tocado por uma orquestra, um
instrumento, ou simplesmente cantarolado por alguém. É Beethoven! É Beethoven
chegando veemente aos nossos ouvidos, batendo à porta de nossas mentes com os
nós dos dedos de sua Quinta Sinfonia. Como uma surpresa ou como um aviso.
Alguma coisa está para acontecer, ou para nos ser informado. E temos a sensação
de não saber. Da mesma forma quando o destino bate à nossa porta nos chamando
para a realização de alguma coisa.
Foi justamente essa a intenção do
Mestre Beethoven ao criar as primeiras notas dessa magnífica sinfonia. Como
iniciado nas Tradições Antigas, a música desse gênio obedece as suas
orientações místicas mais sutis ou mais declaradas. Suas Nove Sinfonias formam
um conjunto que mostram a trajetória que precisamos seguir para alcançar a
Iluminação, ou seja, sairmos do plano linear de mortais terrenos para vôos na
Luz.
“Pobre
demais para ser respeitado...”
Passaram-se mais de 170 anos
desde a morte de Ludwig van Beethoven. Durante todo esse tempo, poucos souberam
o que significava a sua música. O que estava inserido em sua
obra, dentro de toda sua beleza melódica. Como compositor ele encanta pela riqueza
e beleza da sua música. Como Iniciado nas Tradições Antigas, ele surpreende seu
público que há pouco tempo começa a tomar conhecimento das mensagens contidas
em sua obra.
Há registros de que muitos outros
gênios da música enveredaram pelo Caminho Iniciático como Mozart, Gounod, Bach,
Haydn, Ravel, Debussy. Alguns com o coeficiente místico natural como Beethoven,
e outros com aquela inspiração que consegue reunir profundos ensinamentos com a
mais bela música transposta às partituras por mãos humanas.
Assim, quando pensávamos que as
obras de alguns compositores clássicos eram decorrência da maestria dos gênios,
descobriu-se que vão mais além. Surpresa para uns, ratificação para outros, a
música vem trazendo, veladamente, em seus mais delicados filamentos, recados e
ensinamentos desde há muitos séculos.
“Excêntrico
demais para ser amado...”
Seguindo seu Caminho do
Aprendizado e chegando ao Mestrado, Beethoven compôs nove sinfonias que são uma
referência, apesar de velada, aos grandes passos do ser humano em direção à sua
re-ligação com Deus.
As nove sinfonias de Beethoven
mostram muita coisa sobre esta Jornada Evolucional do ser humano: suas
sinfonias ímpares, a Primeira, a Terceira, a Quinta e a Sétima, têm os
atributos do masculino. São vigorosas, emanam poder e comando. Portanto, estes
atributos estão ligados à cabeça, ou seja, ao intelecto.
Suas sinfonias de números pares,
a Segunda, a Quarta, a Sexta e a Oitava, têm os atributos do feminino. São
belas, elegantes, e graciosas. Atributos estes ligados ao coração, ou seja, à
intuição.
E, finalmente, a Nona Sinfonia,
que representa a união das Sinfonias Pares com as Sinfonias Ímpares. O
Casamento Místico, de cuja união nasce e emana o equilíbrio perfeito entre
Mente e Coração. É a consumação do trabalho do ser humano na Jornada Evolutiva.
É quando acontece a manifestação do Cristo Interno no Caminheiro. É a cristificação
do homem.
“Pobre
demais para ser respeitado. Excêntrico demais para ser amado...”
Quando Beethoven apresentou e
regeu sua Quinta Sinfonia em Viena, recebeu do público o fiasco como aplauso.
Completamente surdo, regia uma orquestra que não tocava direito a sua
partitura. Assim, quando terminou (em 1823) sua obra que considerava a mais
importante, a Nona Sinfonia, ele resolveu apresentá-la em Berlim. A notícia se
espalhou e chocou os vienenses, que lhe imploraram pela apresentação em sua
cidade. E em maio de 1824, no Kärtnetor-Theater, ainda durante o terceiro ato,
o público o aplaudiu efusivamente.
Seu triunfo? Não! O aplauso
daquele público era apenas uma manifestação de quem foi ouvir boa música e foi
bem servido por um mestre como Beethoven. Seu verdadeiro triunfo começou com a
visita de personalidades que recebia em seu isolamento e solidão, entre eles
gênios do quilate de Liszt, Rossini e Schubert. Isso sim era triunfo!
No decorrer dos séculos que lhe
seguiram, os nomes mais famosos da música mundial o reverenciaram até hoje.
Homens e mulheres de todas as classes sociais, de todas as áreas da atividade
humana se curvam respeitosamente à música de Beethoven, ao homem Beethoven.
Quando as pessoas mais ricas do
mundo atual ouvem aquele “tan, tan, tan, tan” sabem que é
Beethoven cantando... Quando as mulheres mais bonitas entre as mais belas
mulheres o ouvem, sabem que é Beethoven declamando... Quando as mentes mais
brilhantes, cultas e privilegiadas ouvem, sabem que é Beethoven incitando...
A Quinta Sinfonia tem em sua
estrutura musical a representação do que foi chamado de “Destino do Homem”. Uma
chamada ao verdadeiro Destino do ser humano.
A Quinta sinfonia chama, convoca
e representa um importante portal para a liberdade do homem como apenas humano.
É a “Sinfonia da Vitória”, cuja interpretação espiritual é a “conquista do eu
inferior”. Não é de estranhar, então, que na 2ª. Guerra Mundial a Rádio BBC de
Londres usou as primeiras notas desta sinfonia como prefixo. As quatro notas
iniciais, três curtas e uma longa, em Código Morse correspondem à letra “V”, de
vitória. O mesmo sinal que era visto constantemente nos dedos do então Primeiro
Ministro inglês Winston Churchill.
Além das raras, porém ilustres
visitas que Beethoven recebia uma delas era a mais constante: a liberdade. Ele,
sozinho, solitário, surdo, mal compreendido... E foi essa mesma liberdade que o
impediu de ser um compositor a serviço apenas de reis. Beethoven serviu ao
talento, ao Caminho Iniciático e aos seres humanos – aqueles que apreciaram seu
trabalho em sua época, aqueles que se encantam com sua música através do tempo
e aqueles que descobriram quanta Luz sua obra contém.
“Grande
demais para ser ignorado...
Fraterno Abraço
RuyR@mires.’.
Beethoven teve a liberdade de compor, não se atrelando a nenhum nobre (rei, príncipe ou conde). porque a época era outra, Século Dezenove. Se vivesse no Seculo XVIII, certamente se submeteria, como BACH se submeteu, porque teria que sobreviver numa época em que as oportunidades de empregos, as ocupações eram muito escassas, e a figura do profissional liberal inexistia. Ou você se ligava a alguém prá trabalhar ou morria de fome, literalmente. Ou mendigaria ...
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